quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Desafio Solidário - A correr por ti

Habitualmente não costumo fazer divulgações aqui no blog, mas desta vez decidi sair do torpor literário e publicitar aqui esta grande iniciativa.

Trata-se do "Desafio Solidário" do projecto"A correr por ti".

"A correr por ti" é um projecto solidário e tem como objectivo juntar a actividade física, a saúde e bem estar à solidariedade. O grande promotor é o Ricardo Monteiro, quem seguiu os programas do Sic Noticias Running pode lembrar-se da entrevista que deu num dos episódios.

Conheci o Ricardo quando um dia apareceu um tipo no FB a organizar um grupo de treinos de corrida em Beja. Fiquei bastante surpreso e contente com a evolução na minha cidade (depois percebi que a ideia era de um Nortenho, mas pronto não se pode querer tudo :). Assim que tive a oportunidade meti-me com ele e fui a dos seus treinos. Foi um bom treino, sempre na conversa e onde me falou do seu projecto solidário.

Uns meses mais tarde quando começou a organizar uma Corrida/Caminhada de solidariedade em Beja achei uma excelente ideia mas, sendo em Beja, julguei que teria pouca adesão... Um engano, não só foi um sucesso com mais de 400 participantes como demonstrou que era possível numa cidade pequena pensar em grande!

Desta vez a ideia do Ricardo é ainda mais abrangente! Um verdadeiro desafio solidário para o mundo!

Deixo aqui a descrição do evento do facebook e o clube no Strava:

Já corre? Quer começar a correr? Gosta de ajudar? Gosta de ser solidário? Gosta de ganhar prémios?
Então este desafio, foi feito para si!
O objectivo do Desafio Solidário A correr por ti, é juntar a vertente running com a solidariedade. 

Como é que vai funcionar?
- Ganha este desafio, quem fizer mais km's a correr, no mês de Janeiro de 2016;
- Para registarmos os km's e treinos que faz, tem de publicar no evento, os seus treinos, através de fotos ao relógio ou telemóvel com o dia e km's ou partilha do treino através da aplicação que costuma usar no seu telemóvel ou relógio;
- O valor angariado, neste desafio, reverterá a favor de uma instituição, associação ou pessoa, escolhida pelo vencedor;
-Todos os participantes, poderão vir a ganhar prémios, para se habilitarem aos mesmos, que serão sorteados aleatoriamente, terão de fazer o mínimo de 10 treinos de corrida, em Janeiro de 2016;
- Os participantes inscrevem-se no desafio, durante Dezembro de 2015, através do email acorrerporti@gmail.com, indicando nome, morada e tipo de inscrição. Deverão também enviar o comprovativo de depósito ou transferência do valor de inscrição, para o mesmo email;
- O valor da inscrição, são 5€ ou então 12,5€ (portes incluídos) e têm direito a uma t-shirt ou um buff A correr por ti;

A página A correr por ti, só receberá o valor que pagou por cada t-shirt ou buff, vendidos. O resto do valor, reverterá a favor da instituição, associação ou pessoa, escolhida pelo vencedor do desafio.
Várias empresas e pessoas de todo o país, irão doar bens e serviços, para serem sorteados na primeira semana de Fevereiro de 2015, por todos os participantes que cumpram o estipulado, ou seja, inscrição e respectivo pagamento e os 10 treinos obrigatórios.
Não estão garantidos prémios para todos. Mas todos se habilitam a ganhar algo.
Qualquer dúvida, podem contactar por email (acorrerporti@gmail.com) ou por mensagem privada na página A correr por ti.
Boa sorte e boas corridas!!!

E pronto, agora vão lá ver a página e inscrevam-se. É fácil, interessante e verdadeiramente solidário!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Há esquilos em Monsanto II

Fez hoje 2 anos que me estreei na "Hora do Esquilo", e como tal, decidi assinalar aqui a data.

Foi um pequeno acto de fé mas que teve enormes repercussões na minha vida desportiva. Vendo em retrospectiva talvez se tenha aproximado mais da loucura: com praticamente zero experiência em trilhos, correr de noite em Monsanto e ainda por cima com um grupo "avançado". Claro que, na altura, eu não sabia esse pequeno detalhe, nem facebook tinha! Felizmente acertei em cheio no dia para fazer uma estreia. A Convocatória foi:

*** HORA DO ESQUILO *** 29/OUT/2013 ***
Treino em ritmo sereno-tranquilo.
Excelente oportunidade para conhecer a primeira parte do percurso Trepador, mas num ritmo ao alcance de todos, ninguém fica para trás!

29/10/2013 A minha primeira esquilo-foto!
Após 2 anos de idas à "Hora do Esquilo" e em perspectiva foi efectivamente um treino muito "sereno" mas o ideal para me fisgar ao trail. Foi com esta malta que fiz os treinos mais duros e os mais divertidos. Agora lembro com alguma nostalgia os treinos em que completamente desorientado na noite de Monsanto (antes de começar a correr à Hora do Esquilo nunca tinha corrido em Monsanto) com o coração no limite, no fim do grupo a tentar desesperadamente não perder contacto com as luzinhas da frente. Épico.
13/03/2014  <TTT> "Apenas" o treino mais brutal que já fiz nos Esquilos!
Mas acima de tudo o que me prendeu ao grupo é o fantástico ambiente. Sempre a puxar uns pelos outros e a partilhar as várias experiências. É sem dúvida esse o grande sucesso deste treino, com um registo diário nestes 2 anos praticamente imaculado (que me lembre apenas por um par de vezes não houve quórum).
29/05/2014 Neste dia calhou-me a mim tirar a tradicional esquilo-foto.
Como todas as sequelas também esta se deve ao sucesso do post original. Com mais de 950 visualizações é de longe o post mais lido aqui do estabelecimento. Provavelmente muitos dos leitores que aqui vieram parar ou queriam ver fotografias de esquilos verdadeiros ou andavam, tal como eu fiz há 2 anos, à procura de mais informações antes de se aventurarem em irem correr de madrugada para o meio do mato. Por esse motivo decidi escrever este post.

A regra mais básica do grupo é: ninguém fica para trás! Mesmo que isso signifique que os mais rápidos andam a fazer "piscinas" para trás e para a frente. É óbvio que em alguns treinos isso não é confortável quer para os rápidos como para os lentos (porque na realidade a tradução da regra é: o último não descansa!).
04/05/2015 Trepador, Tubarões, Sustos e Fantasmas... Daí a minha cara... 6 da manhã e estava eu já preparado para bater uma sestinha sozinho no parque de estacionamento quando me batem no vidro... 180bpm logo ali e o aquecimento ficou feito. Depois, toca de seguir o Luís, qual rêmora e ouvir tilintar e ver vultos pelos trilhos de Monsanto.
Quando me perguntam sobre se terão preparação física para um treino a minha resposta costuma ser: provavelmente sim afinal de contas eu fui praticamente sem nunca antes ter corrido em trilhos. Mas para primeira vez, sugiro experimentarem a ir num dia em que a convocatória seja mais moderada. Há convocatórias no grupo do Facebook todos os dias com a ementa para o dia seguinte. A descrição costuma ser sempre algo enigmática e cheia de siglas mas com um pouco de pesquisa conseguem descobrir o que se trata. Para primeira vez sugiro que evitem convocatórias com as siglas "SSB" (Sabor a Sangue na Boca), "TTT" (Trepador Time Trial) ou qualquer outra que inclua as palavras "RedLine" ou "Diabólico". Procurem antes um "FF" (Fluffy Friday) ou "RSS" (Rolador Sem Stress) de preferência após uma grande prova do trail nacional, que o pessoal costuma estar mais calminho quando está todo empenado.

Para participar? :) Basta aparecer às 6h no parque de estacionamento da estrada do Penedo (junto às antenas) e dizer "Bom dia"!
29/10/2015 Hora do Esquilo by Drone, hoje até houve tecnologia!
PS - Obrigado grande Timoneiro e boa sorte no novo desafio que se avizinha!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

3ª Corrida Montepio - 25 Outubro 2015

Uma semana depois de ter feito a Maratona, onde retirei "apenas" 21' ao tempo do ano passado, o bom senso continuou na estratosfera e fui fazer mais uma prova de 10km. 

Como a maioria das corridas de 10km, também esta não estava propriamente no meu planeamento. Mas as razões para participar eram mais que muitas: o carácter solidário, o facto de (mais uma vez) poder disfarçar a coisa como uma actividade familiar, porque a equipa do Clube TAP ia participar e fundamentalmente porque desde as corridas de Setembro fiquei obcecado com os muito ansiados sub40...
A equipa do Clube TAP finalmente em foto!
Antes de correr a Maratona parecia muito boa a ideia ir tentar bater o RP dos 10km uma semana depois (só para lembrar que sou um optimista), a realidade é que embora tenha recuperado muito bem o desgaste de uma Maratona não passa em 7 dias...

Chegámos cedo ao Rossio, até porque a Margarida ia participar na Corrida dos Pelicas. Na realidade esta seria uma verdadeira actividade familiar. A Margarida nos Pelicas e nas actividades, eu nos 10km e a equipa Inês/Mafalda nos 5km carrinho de bebé!

O tempo estava chuvoso e embora a temperatura estivesse boa, antes de começarmos já estávamos todos ensopados.
Tudo pronto? Vamos lá!
O principal motivo que me levou a considerar o devaneio do ataque ao RP foi a ausência de desnível desta prova. Mas com as pernas ainda pesadas e o facto de, devido a uma confusão na inscrição, ter escrito no meu dorsal sub60, o que significava 2ª vaga e montanhas humanas a ultrapassar, as expectativas na linha de partida eram baixas.

Cerca de 5min depois da 1ª vaga de atletas ter saído (Elite, sub40 e sub50) lá foi dada a partida para o 2º grupo (sub60 e +60) onde eu me encontrava. Uma pequena nota só para dar os parabéns à HMS por mais esta inovação. Acho que funcionou muito bem e é definitivamente o caminho para este tipo de provas com milhares de atletas. Apenas penso existir um detalhe a melhorar, na meta devia existir um cronometro para cada vaga. Todos sabemos o poder dos segundos a passar na recta da meta.

Os primeiros metros ainda fui dentro do pelotão a tentar cuidadosamente ultrapassar devido ao piso escorregadio. Mas 150m a correr a 5'18/km deixaram-me num estado de nervos e frustração que não resisti e fui para o passeio. Com a adrenalina a bombear lá fui eu a assapar passeios da Rua do Ouro abaixo como se, efectivamente, tivesse roubado alguma coisa! Os 400m seguintes até à curva para a Praça do Município foram corridos a 3'45/km. Mas na curva o bom senso retornou e voltando para o alcatrão reduzi muito a velocidade, até porque vi pelo menos 2 atletas no chão... Mas a verdade é que o sprint permitiu-me ultrapassar o grosso do pelotão e a partir daí já consegui correr sem grandes desvios. Passa a primeira placa de km e o relógio apita 4:00, quase que pulava de alegria.
Sempre com cuidado nas curvas! (Foto mBm)
Obviamente que iria pagar o preço de tanta parvoíce e desde praticamente o 2km que me estava a custar manter o ritmo dentro dos 4'/km. A partir do 4km todas as células do meu corpo gritavam para que parasse. No 5km estava pronto para falecer. Quem já fez séries de 400m conhece a sensação naquela última série em que o coração parece querer sair e que o único pensamento é que só um louco se submete a tamanha tortura. Foi o que eu senti durante praticamente toda a prova. A sorte azar é que sou mais teimoso que uma porta e permaneci (é a minha palavra)! Felizmente as pulsações estavam no visor secundário do relógio e nem tive tempo de olhar porque caso contrário não teria continuado com a tortura. A média na prova foi de 182bpm, a média da 2ª metade foi de 187bpm...

Pouco oxigénio chegava ao cérebro mas quando passei no 7km  comecei a fazer contas. Já estava quase 10'' atrás do objectivo, pode não parecer muito mas para mim era uma enormidade e desanimou-me. O 8km foi o mais lento da prova e eu só já pensava: só falta sofrer 2kms, o último a adrenalina resolve.
Calçada? O que é isso? Sofrer? O que é isso? (Foto PortugalRunning)
E a verdade é que a passagem da placa do 9km devolve-me o animo e nem a horrível calçada na Ribeira das Naus me afecta. Avanço decidido e quando faço a cuidadosa curva para o Terreiro do Paço tudo se dissolve e arranco num sprint que nem eu sabia que ainda tinha. Foram 500m a 3:45 com uma média 190bpm. Nestes últimos metros, para não perder a concentração, nem olhei para o relógio e o contador da meta marcava o tempo da 1ª vaga pelo que não servia de referência, eram só as minhas pernas e a meta. 

Quando finalmente parei o relógio e vi 39:36 nem queria acreditar! Tinha conseguido! Sou SUB40! Talvez o objectivo em termos de corrida que durante mais tempo persegui! 
Até as pálpebras estavam cansadas.
Depois fui procurar a Inês e a Mafalda que tinham ido fazer os 5km da "caminhada" a correr e passei mais uma vez a meta com elas.

Acima de tudo, foi uma grande manhã em família, todos encharcadinhos. E pronto, agora posso deixar de "correr aquecimentos".
Foto molhada!

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Throwback Thursday: Rock'n'Roll Maratona de Lisboa 2014 - 5 Outubro 2014


Como podem ter reparado voltei ao activo aqui no blog. Durante a fase de hibernação comecei vários posts mas devido ao carácter temporal dos temas, provas, ao fim de algumas semanas sem conseguir progredir, não só perdia a motivação para os terminar como perdia o timing para os publicar.

Assim, ao longo destes meses fui coleccionando posts inacabados. Agora que estou a tentar colocar a coisa nos eixos lembrei-me de uma expressão que costumava ler nos blogs em língua inglesa (na altura em que ainda tinha tempo para ler blogs, agora só consigo mesmo ler os blockbuster dos blogs de corrida nacional): Throwback Thursday. Numa tradução livre é algo do género "Recordar à Quinta-Feira". O conceito é publicar às quintas-feiras algo do passado que tenha marcado o visado. Ora todos os posts inacabados deixaram uma marca em mim, porque por mais pequenos que sejam, ao ritmo a que escrevo, de certeza que ocuparam um grande espaço de tempo na minha vida! 

Como podem compreender, terminar relatos com meses de iato, leva a que a maioria dos pequenos pormenores já não existam. Por isso não se admirem se alguns destes posts terminem de forma mais abrupta.

Um dos posts que deixei inacabado foi o da Maratona, algo imperdoável! Por isso, e pelo facto de estar a pouco mais de uma semana de voltar ao mesmo percurso foi a escolha óbvia para iniciar esta nova rubrica aqui no botequim.


Rock'n'Roll Maratona de Lisboa 2014 - 5 Outubro 2014

Um ano depois voltei ao "meu quintal" para correr os 42,195 km pela 2ª vez.

A mesma distância, o mesmo percurso, a mesma tshirt mas uma experiência completamente diferente do ano anterior.

Primeiro, e como expliquei no post anterior, a preparação. Ou antes a falta dela, dos treinos longos e da adaptação do corpo ao esforço constante. A confiança não era muita e dai à defesa quer na colocação de objectivos relativamente acessíveis - igualar o tempo do ano passado - quer na aproximação jocosa de forma a manter as expectativas bem baixinhas.

Depois, quase por acaso, nas vésperas da prova arranjo uns companheiros fenomenais. Malta dos treinos em Monsanto que como eu decidiram fazer um intervalo dos trilhos para completar a distância rainha das provas de estrada. Embora tenhamos ritmos muito semelhantes entre os 3 sei de antemão que a minha "preparação" não me vai permitir acompanha-los até ao fim, mas esse "detalhe" não irá impedir-me de tentar.
Os meus grande companheiros de empreitada!
Ainda com as cãibras do ano passado na memória, este ano decido pensar antecipadamente e com tempo os abastecimentos. No ano passado levava as mantimentos mas não tinha plano, ia confiante que seria capaz de ir controlando a coisa mas com a adrenalina perdi um pouco o controlo e às tantas já não me lembrava do que tinha comido e do que precisava. Este ano planei tudo ao detalhe, onde iria beber o isotónico, onde ficaria a fruta e onde comeria as minhas marmeladas. Este ano voltei a fazer uma maratona sem géis.

Um dos problemas que achei na organização do ano passado era o facto de existirem poucos pontos de abastecimento de isotónico. Pode ser psicológico, mas acredito que a ingestão de isotónico está directamente associada às cãibras que tenho e por isso é um ponto fundamental para mim. Daí este ano decidi que iria levar a minha própria provisão. O que implicava levar o cinto ou a mochila.

A mochila era demasiado peso e o cinto não tem espaço para sólidos e sempre que o tenho utilizado para treinos mais longos acaba por me fazer assaduras nas costas. Acabo por me decidir pelo cinto sabendo que vou ter de pagar o preço.
Momento épico em Santo Amaro de Oeiras.
Uma das maiores criticas o ano passado foi a hora de inicio da prova. A provar que é sempre possível melhorar, a organização colocou o inicio da prova para umas muito mais simpáticas 8:30. Outra alteração de peso foi o percurso. Em vez de termos as voltinhas no Estoril e em Oeiras, a organização alterou o ponto da partida e colocou a distância pelas ruas de Cascais. Se por um lado a ideia foi boa, evitar a subida no Estoril e o percurso em Oeiras que envolvia uma passagem no parque em terra e um empedrado, é sempre positivo (embora pessoalmente eu gostasse muito de passar na minha terra adoptiva). Por outro o percurso inicial em Cascais com idas e retornos  na mesma rua, com os carros estacionados e o pelotão ainda muito denso tornaram o inicio algo caótico.

Às 8h30 lá estávamos os 3 prontos para atacar a Dª Maratona. Muita gente conhecida e após deixarmos os sacos no camião de apoio lá fomos para a partida, onde nos colocámos mesmo juntinho da bandeira das 3h45. Este ano a partida era na entrada do Hipódromo e não sei se é da minha cabeça mas é tudo muito apertado. Se o ano passado saí nas calmas, estes ano foi um stress só para conseguir passar o pórtico da partida. Fruto da alteração do percurso e do caos associado o 1km é feito a um ritmo muito baixo, e sempre a tentar ultrapassagens, energia que não se quer desperdiçar logo no inicio de uma maratona!

A partida impropria para claustrofóbicos.
Mas ao fim de 2km lá conseguimos estabilizar o ritmo e alcançar de novo a bandeira. Tendo em conta a minha não preparação, o meu plano era simples: ir num ritmo confortável de 5'15/km o máximo de tempo possível e depois tentar sobreviver o resto da prova. E assim fizemos, sempre uns metros à frente da bandeira lá seguimos Marginal a fora.

Este é um percurso que conheço quase de cor e sem carros a atrapalhar é efectivamente um grande postal que os inúmeros atletas estrangeiros levaram para casa. Em Santo Amaro tenho o melhor momento da prova, com a minha claque à espera. Com as energias renovadas lá seguimos no nosso passinho certo. Na Cruz Quebrada encontrámos o 1º abastecimento de isotónico mas está tudo muito confuso, a mesa com os copos é muito pequena, os copos já foram todos e os voluntários não conseguem repor a tempo. Acabo por pegar numa garrafa inteira e leva-la comigo.

Os três na Marginal no nosso ritmo certinho.
Chegámos ao pórtico da Meia Maratona com 1h50, média de 5'14/km. Perfeito. O problema é que não há milagres, e a partir do 24km, a cada km era mais difícil manter o ritmo. Ainda aguentei mais 6km mas ao 30km rebento. O ritmo baixa e deixo os meus companheiros seguirem para a sua prova. Pouco antes do Cais do Sodré passa por mim a bandeira das 3h45 e entro em modo de sobrevivência.

Curiosamente parece-me que a volta aos Restauradores não custa tanto como o ano passado e começo a desejar ardentemente o abastecimento dos 33km, porque haverá isotónico e toda a minha super estratégia contra as cãibras baseia-se em repor sais pelas bebidas. Mas mesmo antes dos abastecimento chega o choque. Após 34km o pelotão já está muito esticado e desde o Terreiro do Paço que sigo praticamente sozinho, mas de repente estou rodeado por milhares de atletas, é a malta da meia.
E um agradecimento ao patrocinador.
 Sei que houve quem tivesse gostado deste juntar de provas e tenha ganho alento com a os atletas da meia. Mas para mim foi terrível, quer a nível físico como emocional. Por um lado já não tinha energia para andar a competir por abastecimentos com pessoas muito mais frescas. Chegar perto do isotónico foi completamente impossível e até a água tive de andar uns passos para conseguir apanhar. A nível emocional o que me perturbou foi começar a ser ultrapassado e saber que todas aquelas pessoas tinham menos 21km nas pernas. Eu que tenho uma grande capacidade de correr sozinho, tentava desesperadamente encontrar algum atleta da maratona com que pudesse partilhar o meu estado de alma. Mas é quase impossível perceber quem está em que prova. Finalmente encontro um atleta que corre com a tshirt oficial e eu que sou super calado meto conversa.

Seguimos juntos alguns km's mas ele está em grandes dificuldades  e no Braço de Prata tem de caminhar e eu sigo. O ritmo entretanto baixou para perto dos 5'50/km e assim me arrasto até à rotunda do Pavilhão do Conhecimento.
Dedicada à minha mais que tudo...
Já dentro do Parque das Nações cheira-me a meta, ganho novo fôlego e começo a acelerar. Esta zona já está cheia de público e quando finalmente separam os atletas da meia parece que voltei novamente à maratona.

O último km é percorrido em menos de 5' e desta vez até me lembro de dedicar a prova à minha linda esposa e levantar os braços e celebrar.

Levanta os braços e sorri. Levanta os braços e sorri. Levanta os braços e sorri. Ah, e desliga o relógio!
Termino a minha 2ª Maratona com um tempo de 3h47'42''. Menos 10min que o ano anterior, em muito melhor estado e com um treino especifico miserável. Não é um tempo fantástico mas como dizem: não há almoços grátis. Desta vez levei a máquina de filmar e fiz um video sofrível que publiquei aqui.

Uma última palavra para os meus companheiros de empreitada que estiveram muito bem e literalmente que rebocaram naqueles primeiros 30km. Obrigado!

E finalmente a foto do triunfo!

domingo, 4 de outubro de 2015

Não há duas sem três...

Sim, este blog ainda não está completamente extinto. O número de posts inacabados e não publicados não pára de crescer mas este há de ser publicado em tempo útil ou não me chamo Roy.

O mote deste post é o facto de ter participado não em uma mas em três corridas de 10km em Setembro. Isto depois de ter dito que já não saía de casa para ir fazer aquecimentos... Mas entre borlas, clássicas e obrigatórias vi-me na linha de partida três vezes.

Corrida Jumbo 2015 - 5 Setembro 2015

Esta foi à borla. Não estava nos meus planos e nem sabia exactamente qual era a data. Mas nas vésperas um colega do Clube TAP, que estava inscrito, não pode ir e perguntou se alguém queria ir. O colector impulsivo de borlas que há em mim não resistiu ao apelo e após confirmar que ainda podia inscrever a minha filha na prova das crianças lá fomos todos para o Autódromo do Estoril.

Já tinha passado várias vezes à porta desse icone da imaginação de jogador de "Gran Prix" mas nunca tinha lá estado. O ano passado tinha participado na versão algarvia da Corrida Jumbo pelo que estava mais ou menos preparado para o que me esperava. Por mais plano que os circuitos pareçam na tv a verdade não é assim tão geométrica.
Partida dos Bambis com a grande atleta na linha da frente e o cota lá atrás...
Desta vez, se calhar pela prova ser de tarde, chegámos bem a tempo da Margarida fazer a sua prova. Embora ainda pudesse levar o cota a correr com ela (por estar no escalão bambi), logo me avisou que não precisava de ir com ela porque já sabia como era... Mas a facada no coração valeu a pena para poder ver a cara de felicidade ao cruzar a meta! Estava tão contente que nem me ouviu a chamar por ela!
E está feito! E nem estou assim muito cansada... Ah, e ganhei ao Batman!
Depois dos pequenos era a vez dos crescidos irem fazer o seu passeio. O esquema era semelhante à prova de Lagos, uma volta num sentido, passagem pelo paddock e nova volta em sentido inverso. Só para verem o quão inesperada foi esta participação, a prova foi no Sábado à tarde, na Sexta de manhã tinha feito um treino longo de 28km, numa semana com mais de 80km... Obviamente que as expectativas não eram muito grandes, entre o cansaço e o percurso pouco plano.
Como aprendi no "Gran Prix" fazer as curvas por fora.
Mas como sempre nestas corridas de 10km, mal passei a o pórtico o discernimento foi às urtigas e foi a acelerar até à Red Line. Quando o relógio apitou no 5km marcava 20:05 e o meu coração parecia que queria saltar pela garganta. Nestas corridas tenho sempre de encontrar formar de me motivar a continuar e não a estender-me no chão. Desta vez o estratagema foi tentar seguir a Mónica Moreiras. No tempo em que participava no troféu das localidades de Oeiras ela cilindrava a competição feminina e embora seja uma grande atleta nestes primeiros km's consegui manter-me na sua esteira. Obviamente que não consegui manter o ritmo e terminei os 10km ao sprint com o tempo de 41:05 a uns míseros 9s do meu RP oficial.
vrrrrmmmmmmm...
Excelente organização da HMS principalmente porque permite mascarar uma prova de 10km como actividade familiar. :) Entre a corrida dos pequenitos, as actividades para as crianças durante a prova (babysitting incluído) e todas as ofertas dos patrocinadores proporcionaram uma tarde em família muito divertida.
Boa disposição reinava no paddock.


Corrida do Tejo 2015 - 13 Setembro 2015

A clássica, o meu metrônomo da corrida, foi a minha 7ª participação.

Era para ter sido uma corrida a dois, mas infelizmente a minha cara metade ainda não voltou ao ritmo de outrora e não estava em condições de fazer 10km. Mas com a companhia do costume lá estava às 10h em Algés pronto para mais uma Corrida do Tejo.
Esta foi tirada já no fim, porque no início estava tudo demasiado ensonado para se lembrar de tirar selfies...
A organização reutilizou o esquema do ano passado e sem surpresas penso que correu tudo como esperado. Com o bónus de este ano a tshirt voltar a ser de uma grande marca de material desportivo. Obviamente que os blocos não foram respeitados, mesmo estando na 1ª linha do bloco sub45 (e portando apenas com atletas sub40 à minha frente) levei toda a prova a ultrapassar atletas e os primeiros metros foram completamente caóticos. 

Depois da surpreendente prestação na semana anterior no Estoril, parti convicto que seria desta que bateria o meu RP. Mesmo sabendo que o percurso não é exactamente fácil e de ter, mais uma vez, feito um treino longo de 33km numa semana com mais de 70km... A ilusão não tem limites...
Excelente foto escandalosamente usurpada ao Astrodeck Studio, só é pena eu estar meio tapado... 
Comecei super motivado mas com o caos inicial o 1km chegou aos 4:16... Demasiado tempo para o km mais fácil do percurso, recuperar seria quase impossível e a bandeira dos sub40 já estava a milhas. Pouco depois o meu relógio tem uma paragem cerebral e apita para os 2km quando nem 500m tinha feito deste a placa do 1km. As estatísticas ficam todas maradas, eu fico furibundo. Esqueço o RP e faço o resto da prova a gerir o esforço. E faço uma gestão tão eficiente que chego a Santo Amaro com energia e quando vejo novamente a Mónica Moreiras uns metros à minha frente e decido renovar o desafio da semana anterior (que existe apenas na minha cabeça) e acelero. A escassos metros da rotunda consigo ultrapassa-la e termino a prova em sprint com a euforia de quem acabou de ganhar a a medalha de ouro olímpica.

Termino os 10km da prova em 40:59 a 3s do RP. Fui tão rápido que nem a minha claque chegou a tempo de me ver cruzar a meta. E embora não tenha sido o record absoluto melhorei quase 1min em relação ao tempo da Corrida do Tejo do ano passado em que ia quase a ter um colapso cardíaco.

Foi mais uma manhã bem passada que continuou num almoço em excelente companhia!
A foto da praxe. Desta vez a Margarida não achou tanta graça porque não correu...

Corrida do Aeroporto 2015 - 27 Setembro 2015

E como não há duas sem três, duas semanas depois estava no Terminal de carga do Aeroporto de Lisboa pronto para mais um aquecimento prova de 10km.

Esta é uma prova que passou a ser obrigatória na minha época desportiva. Como referi no post do ano passado, não só trabalho no aeroporto como o ginásio que dá apoio ao evento é o ginásio que frequento. Há sempre muita gente conhecida e muita conversa para fazer. Esta foi mais uma prova a correr pelo clube TAP. É incrível como o tempo passa, já faz 2 anos que corro pelo clube. Infelizmente este ano os meus colegas de trabalho baldaram-se todos e por isso tive de defender a honra da Engenharia de Operações sozinho.
A vertente familiar da prova capturada em grande pelo LESTUDIO.PT
Foi mais uma prova muito bem organizada pela HMS e com tudo o que já nos habitou. A Margarida é quem mais aprecia as provas da HMS e mais uma vez aproveitou ao máximo. Mais uma vez não quis companhia na corrida e depois foram pinturas faciais, desenhos e brincadeira o resto da manhã. E ainda ganhou uma visita ao aeroporto sorteada pelo Clube ANA.
Legendas para que? A cara diz tudo!
Com a pequena atleta entregue era hora da prova dos grandes. O percurso era igual ao do ano passado, o que significava mais de 110m D+, a entrada no Parque das Conchas e os seus paralelipípedos irregulares e a subida em terra batida bem inclinada dentro do parque. Todos estes elementos fazem desta prova a mais dura das 3 em que participei este mês e imprópria para records.

Face a isto, e tendo em conta que o treino para a Maratona continuou durante a semana com mais um longo de 28km, obviamente que na linha da partida só pensava em bater o RP! No entanto enquanto furava o pelotão para me chegar à linha da frente encontro 2 colegas do Clube TAP e fiquei na conversa. Quando se deu a partida tinha um mar de gente à minha frente e levei novamente toda a prova a ultrapassar outros atletas.
Obrigado Sr. Fotografo, mas para o ano não se coloque no fim da subida... Não havia oxigénio para sorrir...
E quem é que também estava nesta prova? A Mónica Moreiras! Mas desta vez ia ao despique com uma atleta do Sporting e só a consegui ver nas ocasiões em que existiam retornos. Claramente na Corrida do Tejo ia no relax, afinal de contas é uma Atleta com "A" grande.


O facto de conhecer o trajecto permitiu-me fazer uma gestão super eficaz e passei aos 5km com 19:44, o meu melhor tempo. Mas ainda faltava a Quinta das Conchas e com o cansaço acumulado não consegui manter o ritmo.
E está feito! Novo RP!
O final desta prova é muito fixe, com uma descida jeitosa permite terminar em grande sprint e com a adrenalina aos saltos. Os últimos 500m fora corridos a menos de 3'30/km e passei a meta com um tempo de 40:32. E não é que, a treinar para uma maratona, numa prova difícil, bati o meu RP dos 10km. O sub40 ficou tão perto que quase o consigo saborear... Acho que ainda vou ter que fazer outro "aquecimento" este ano, um assim bem plano!

Até para o ano!

terça-feira, 23 de junho de 2015

III INATEL Piodão Ultra Trail - 28 Março 2015

Mas que magistral empeno! É sempre fácil dizer que o empeno actual é o MAIOR de sempre, principalmente porque já não nos lembramos dos anteriores, mas tenho quase a certeza que este foi o meu MAIOR empeno de sempre! Esta prova era o grande objectivo do 1º semestre, juntamente com a prova de Janeiro cujo o nome não pode ser pronunciado, e, principalmente devido à forma como correu em Janeiro, precisava que esta corresse bem.
A tshirt catita, o dorsal, o prémio e os meus salvadores: bastões e cábula
Provavelmente foi a prova de trilhos que melhor preparei (dentro do meu esquema de treinos que passa principalmente por fazer aquilo que me apetece quando tenho oportunidade). Graças às boas/más companhias, que andava a preparar voos muito mais longos, os últimos meses foram recheados de D+, escadas e muitos km's nas pernas. A única coisa que faltou na preparação foram mesmo treinos mais longos em trilhos, algo que viria a pagar com juros na ponta final desta prova...

Empeno fenomenal, perfeito para limpar a memoria da prova de Janeiro. Prova muito dura, com subidas brutas e descidas cruéis. Muito calor, muito xisto, muita beleza e muitas cãibras... A descida para Foz de Égua foi um tormento. Acabou por toldar o que seria uma prova perfeita. Pela primeira vez completamente a solo deu para testar os limites da máquina, mas faltou o incentivo da companhia nos momentos mais sombrios. Organização perfeita e paisagens de sonho.

Até para o ano Piodão!
Pico do Colcurinho, o último momento sano antes da Descida...
Infelizmente não consegui escrever um post como esta prova merecia. Mas devido ao facto de já ter passado mais de dois meses e entretanto já ter feito outras provas, decidi publicar assim mesmo e pelo menos ficar com esta recordação. Pode ser que eventualmente o termine...


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ultra Trilhos dos Abutres - 31 Janeiro 2015

DNF...

Pela primeira vez não terminei uma prova que tinha iniciado. DNF, não por decisão ou lesão, mas porque não consegui cumprir, ao 30ºkm, o tempo de passagem intransigentemente respeitado pela organização. Esta foi uma prova indescritível. Todos os relatos e vídeos que li e vi não me prepararam para aquilo que vivi em Miranda do Corvo. Trail brutal, extreme em condições atmosféricas difíceis que várias vezes me fizeram duvidar da minha sanidade mental em voluntariamente ter-me colocado na linha de partida. Mas, acima de tudo, foi uma aventura inesquecível na companhia de malta fantástica. Posso não ter trazido o sapatinho para casa, mas trouxe uma história e uma mão cheia de novos amigos.
Adoro esta foto! Tudo animado e cheios de vontade de atacar os Abutres!
Toda esta aventura foi em grande parte uma novidade para mim. Começando logo com a logística. Com o início da prova marcado paras as 8h, sair no dia de Oeiras obrigaria a uma viagem demasiado "matinal", mesmo para os meus padrões. Deste modo decidi juntar-me a mais malta que habitualmente treina em Monsanto e fomos de véspera para mais uma estreia para mim, dormir no solo duro.

Mal chegámos a Miranda do Corvo fomos logo tratar do mais importante, jantar. Porque afinal de contas era preciso muita energia para enfrentar os Abutres. E o que mais se poderia comer na "Capital da Chanfana"? Foi um grande convívio onde juntámos uma mesa cheia de gente impecável. Mas, como em todo o fim de semana, o tempo corria e o secretariado fechava às 24h e não queríamos ficar "barrados".

Afinal chegámos bem a tempo e depois de uma verificação minuciosa ao meu CC lá me entregaram o dorsal e o saco das lembranças com a tshirt e um buff da prova. E não é que era mesmo um buff da Buff! Ainda deu tempo de passear brevemente pela feira e depois era hora da deita.
Montagem da "camarata" C14B.
Depois de tanta conversa sobre o solo duro, tal como para a prova, ia preparado para o pior. Ele era tampões para os ouvidos, leitor de MP3... Afinal foi super pacifico. O solo duro era nas salas de aula da escola básica ao lado do pavilhão. Devido à nossa chegada tardia foram necessárias algumas tentativas mas lá encontrámos uma sala vazia que se transformou na nossa camarata. A noite até nem se passou mal, tirando o facto de ter que me virar de 30 em 30 minutos porque ficava dormente. Cada vez que acordava ouvia a tempestade que se abatia lá fora.

Dormir com malta que habitualmente começa a treinar às 5:30 é lixado e às 6h já estava tudo levantado. A meio do nosso pequeno almoço recebemos a noticia do adiamento da prova para as 10h devido às condições meteorológicas. Agora já não havia nada a fazer e depois de arrumar o "quarto" fomos ansiosamente matar o tempo. O pavilhão fervia de actividade e os rumores eram mais que muitos: a prova ia ser cancelada, estavam à espera que os caudais baixassem, iam encurtar a ultra... E lá fora chovia copiosamente.
Já com a lição bem estudada afinavam-se as estratégias!
Poucos depois das 8h é anunciado que a prova irá mesmo começar às 10h e que os atletas podem começar a realizar o controlo 0. É ainda comunicado que se mantêm os 50km e será efectuado um briefing final antes do início da prova. Entretanto ficámos a saber que a 2ª metade do percurso fora alterado para evitar a passagem de um rio.
Ainda com o material na mão após o rigoroso controlo 0.
O pavilhão fervilhava de expectativa e após o mais rigoroso controle zero que já fiz lá nos preparamos para a partida. Nesta fase encontro muitas caras conhecidas e após um "Boa Prova" lá seguimos para a rua para iniciar a nossa aventura. E não é que está um céu limpo e um Sol radioso! Considero seriamente em tirar o impermeável. Cinco minutos antes das 10h, um elemento da organização faz o briefing, na linha da partida em voz, para 600 pessoas... Bem pode ter dito coisas super importantes como por exemplo que iam ser implacáveis com os tempos de passagem limite, mas eu, e praticamente todos os que estavam a mais de 5m do elemento da organização, não ouvimos nada...
Tudo a postos!
De forma quase implícita, quatro de nós, decidimos que iríamos tentar fazer a prova juntos, se bem que o elo mais fraco desta cadeia era "moi meme". Finalmente são 10h e o Miguel, o Pedro, o Serradas e eu começamos a nossa prova(ção). Os km's iniciais são feitos pelas ruas de Miranda. Primeiro por ruas largas de alcatrão e depois progressivamente por ruelas mais estreitas em empedrado. Prosseguimos por estrada quase 5km e chego a comentar que já tinha feito provas de estrada mais curtas... Mas pelo menos deu para esticar bem o pelotão e a verdade é que acabei por, em toda a prova, não ter grandes congestionamentos.

Antes de sairmos da vila passamos por um parque urbano circundado por um ribeiro que agora parece um rio de águas bravas. O parque está transformado num enorme lago onde só é possível ver o topo dos equipamentos infantis. Desde logo um "bom" prenuncio do que nos espera...
Em alcatrão até pareço um atleta!
A entrada em trilhos é feita de forma muito progressiva, primeiro por um estradão com algumas poças que progressivamente se ia afunilando e tornado num barranco de lama. Começam a aparecer as primeiras subidas mas ainda perfeitamente corriveis. Ultrapassamos inúmeros atletas que optam por começar desde logo a andar. Começo a sentir calor e dispo o impermeável.

Mas ao 7km embrenhamo-nos completamente na Serra da Lousã e em todas as dificuldades que 3 dias de chuva intensa lhe adicionaram. Os trilhos transformaram-se em autênticos ringues de lama que a trupe de atletas da frente ajudou a transformar numa papa viscosa. Por mais de uma vez sinto a sapatilha a querer sair do pé e tenho de começar a fazer ganchinho para não a perder. Seguimos junto a um ribeiro que atravessamos inúmeras vezes. Saltos e mais saltos que as pernas frescas ainda permitem. Acabou por ser um óptimo momento didáctico e acho que aperfeiçoei a minha técnica de saltos. Embora com dificuldade conseguimos manter um ritmo aceitável fruto do pouco desnível. Mas também isso é algo que pouco dura e ao 10km começamos a primeira subida.

Nos 3km seguintes, a acumular às dificuldades já referidas, começam a surgir paredes de lama que temos de escalar. Aqui vale tudo, mãos, raízes, ramos, pedras, empurrar o rabo do colega da frente, ser empurrado. O ritmo começa a baixar e baixa ainda mais quando começamos a ser ultrapassados pelos primeiros atletas da prova dos 25K. Sempre que sinto alguém nas minhas costas paro e cedo passagem.
Vamos lá equipa! E impermeável na mochila que já tinha dado para aquecer.
Chegamos a Corujeira e ao topo da primeira subida. Os escassos metros em alcatrão que fazemos na aldeia são um desanuviar para as pernas e cabeça. Passamos por uma placa que diz "Posto de Controlo" mas está deserta.

Começamos a descer, e se a subida tinha sido difícil, a descida foi surreal. Para mim sempre foram mais difíceis as descidas técnicas do que as subidas. E nestas condições estava completamente fora do meu elemento. Primeiro muito a medo, mas depois lá me fui libertando e entre escorregadelas e algum ski acabou por ser um dos segmentos mais divertidos da prova. A meio da descida a temperatura começa a baixar muito repentinamente, e após um trovão assustador começa a cair granizo. Arrependo-me de ter tirado o casaco mas, no meio da descida, não há nada a fazer a não ser levar com o gelo nas trombas e esperar que passe.

O primeiro abastecimento chega ao 14,5km (estava anunciado ao 13km) com 2h15m. Não é fantástico mas tem o que é preciso. Pego numa banana, um tomate com Sal e encho a garrafa com isotónico. Até aqui quase não bebi nenhuma da água que transporto. Ficamos muito pouco tempo mas aproveito para voltar a vestir o impermeável.

Retomamos o percurso com o ataque ao topo da Serra, e regressam os obstáculos. Trilhos e mais trilhos super técnicos. Sempre com os pés dentro de "água" e com poucas oportunidades de correr para aquecer. No meio dos meus pensamentos a descrição que me vêm à cabeça é que por comparação isto faz parecer Monsanto num dia de tempestade um citytrail...
Ilustração da definição de "trilhos corriveis" nos Abutres. 
Já na crista da Serra apanhamos com a segunda dose de granizo, mas desta vez com impermeável até acho alguma piada. O pés parecem dois tijolos e assusto-me a sério quando, após olhar para o relógio e verificar que não como nada há quase 2h, decido ingerir uma barra. As mão não me respondem e só com muita dificuldade consigo abrir o pacote. Embora não sinta frio, tenho as mãos geladas. Começo a abrir e fechar as mãos para tentar activar a circulação e embora não recupere também  não ficam piores.

Chegamos ao segundo abastecimento,Mestrinhas, com 23,5km e 4h15m (estava anunciado 22km). Aqui estava muito frio e quando chegamos vimos vários atletas embrulhados nas mantas térmicas. Nunca tinha visto tanta manta térmica. Sigo a mesma ementa do abastecimento anterior mas acrescento Coca-cola, estava precisar de algo doce e da cafeína. Um dos voluntários avisa que já foram evacuados pelo menos 10 atletas e que estão outros tantos ali à espera. Fico ainda mais assustado e apresso o pessoal para seguirmos. Mas o Serradas não está nos seus dias e diz para seguirmos porque precisa de mais alguns minutos.
Afinal também haviam trilhos "normais" e a organização colocou lá um fotografo para o comprovar!
Algo contra vontade lá seguimos e mesmo antes de atingirmos o ponto mais alto da serra começo a ver pequenos flocos de neve a cair, que se transformam em água mal tocam o solo. A visibilidade é muito baixa e embora já as ouvíssemos há algum tempo apenas quando estávamos debaixo delas é que conseguimos ver as eólicas.

Pela primeira vez olho para o relógio para fazer contas. Estamos no início da descida, com 25km e temos 4h35m de prova. Teoricamente teríamos 55m para correr 4km, a descer. Mas se a prova estava a ser muito técnica e difícil até ali, aquele km's seguintes foram completamente infernais. A descida seguia por um trilho junto às margens de uma ribeira, ora numa ora noutra, que atravessávamos por rústicos passadiços de tronco. No verão deve ser lindíssimo. Mas em Janeiro era um escorrega continuo de lama. O ribeiro seguia com uma força desmesurada arrastando tudo no seu leito com um barulho ensurdecedor. Perdi a conta às vezes que escorreguei, até porque o rabo era um apoio perfeitamente válido, assim como as mão, os cotovelos, os joelhos ou a testa...
A altimetria com os tempos limite...
Assusto-me muito a sério quando, numa curva, perco a tracção nos dois pés, caio lateralmente e vou deslizado em direcção do ribeiro. Felizmente consigo agarrar uma raiz e evitar um banho de imersão. Um pouco mais à frente, volto a escorregar, mas desta vez ao tentar recuperar o equilíbrio, estico demasiado o gémeo e tenho uma caimbra que me deixa KO durante alguns segundos. Perco o contacto com os meus companheiros mais rápidos (penso até com o filtro de sanidade levemente desajustado). Estou farto de single tracks! Quero um estradão para poder correr!

Sou ainda "salvo" por um atleta que seguia atrás de mim quando, ao sair de uma das "pontes",  me agarra pela mochila e evita que derrape margem abaixo. Obrigado! Alguns metros mais à frente é a minha vez de ajudar outro atleta a sair de dentro do ribeiro para onde escorregou numa outra "ponte". Dizem que é o espírito do trail.
Apenas mais um ribeiro...
A certa altura comecei a ouvir "Olha o copo!", jogo a mão à mochila e não sinto o meu copo. Paro e olho para trás, e quem é que lá está de copo estendido? O Serradas! Tinha recuperado e já me tinha alcançado.

Mas as maiores parvoíces perigosas de todo este segmento ainda estavam para vir. Em algumas provas de trail podemos observar quedas de água, nos Abutres temos de desce-las. O percurso descia por dentro do ribeiro umas centenas de metros, bem ao espírito do Canyoning. Nos primeiros metros ainda existia uma corda para ajudar, mas depois era à aventura. Obviamente que escorreguei e tomei um duche de água geladinha. Mas vendo bem o potencial da coisa até nem escapei mal. O mesmo não pode dizer um atleta que vi pouco depois da cascata. Estava deitado no chão embrulhado na manta térmica e já na companhia de dois ou três bombeiros.
A preparação para o duche...
Mas o "melhor" estava guardado para o fim do segmento. Um escorrega de lama com cerca de 200m. Já vi escorregas em parques infantis com menos inclinação. Lá fomos num sku controlado e muito cuidadoso. A meio do escorrega "sobe" a noticia que já fecharam o controle e que estão a barrar os atletas. Admito que nesse instante senti alivio. A frustração só chegou depois...

Chego ao posto de controle com 5h56m, 26min após o limite. A prova acabará, com 30km.

Pedem-me que entregue o Chip. Sem mais conversa ou explicação. Retiro e chip e é como se me estivessem a tirar uma parte de mim. Nunca antes tinha tido semelhantes sentimentos por uma quadradinho de plástico...

De repente estou rodeado por centenas de atletas, parece que todo o mundo ficou ali barrado. Muitas caras conhecidas de outras provas. Há muita frustração e indignação no ar com a decisão da organização de fazer cumprir rigorosamente o regulamento. Corre a história de quem tenha sido barrado por segundos e um grupo de espanhóis, especialmente sonoros, descarrega a frustração em vernáculo castelhano. Há quem queira continuar mesmo sem o chip (soube depois que houve quem o tivesse feito), mas depois lá conseguimos serenar um pouco e optar por voltar para o pavilhão. 

O mais irónico de tudo e um dos factos mais frustrantes era que eram 16h, estava Sol e ainda havia muita energia nas pernas. Podiam ter atolado o nosso ego, quebrado as nossas expectativas, privado-nos de ser "finisher" mas chegaríamos ao pavilhão de Miranda pelo nosso pé! Se não era por trilhos seria por alcatrão. Após confirmar com um bombeiro a estrada a seguir lá fomos nós fazer mais 5km e "fechar" o track. Mal começámos a correr uma dezena de outros atletas viram-nos e acompanharam-nos neste segmento final.
A caminho de Miranda sem ego chip.
Estávamos tão bem que ainda demos um voltinha extra em Miranda só para ir subir a famosa rampa final e entrar no pavilhão pela pórtico de chegada. Chegámos mesmo a tempo de ver a elite feminina a chegar e passar cabisbaixo  pela mesa com os sapatinhos "finisher".

No nosso grupo nem todos fomos barrados e ainda ficámos algum tempo à espera das máquinas! Todos os que terminaram o Abutres este ano são elite e têm todo o meu respeito! Parabéns!
E por fim a minha foto favorita: a chegada da grande equipa!
Muito obrigado aos meus companheiros, pelas fotos, pelo filme mas acima de tudo pela companhia, motivação e paciência. E deixei o melhor para o fim! O Pedro e o Miguel para além de irem sempre a puxar ainda conseguiram ter disponibilidade para filmar e tiveram a mestria de montar um video todo catita que aqui partilho.


O balanço final não é, obviamente, muito positivo. Foi sem dúvida uma grande aventura, a mais "extreme" que alguma vez fiz. Adorei os km's onde consegui efectivamente correr. Mas acho que a organização saiu muito mal na fotografia. Tinha tudo para ser uma prova irrepreensível em termos de organização, mas não é aceitável que quase metade dos atletas tenham sido barrados. Não estou a falar de pessoas inexperientes e mal preparadas, vi muitas caras bem conhecidas da modalidade na Srª da Piedade. Com a égide da "segurança" dos atletas acho que as decisões tomadas foram mais no sentido da "segurança" da organização. 

Apesar de, tal como a organização referiu, estar a chover intensamente na Serra à três dias, ficou a sensação que não havia um plano B. O adiamento em duas horas colocou uma pressão enorme nos tempos limite desde logo muito exigentes. 

Depois a alteração no percurso. Devido ao elevado caudal no rio foi necessário alterar a parte final da prova, até aqui a organização esteve muito bem. Mas em vez de encurtar, decidiu acrescentar os km's no início pelas ruas de Miranda. Foram 1,5km a mais como se verificou na distância para todos os abastecimentos. Não é que os 10min tivessem algum impacto na minha prova, mas quem foi desclassificado por segundos tinha razões para se queixar. O segmento das Mestrinhas para a Srª da Piedade nas condições em que se encontrava era demasiado perigoso, sendo que tinha dois pontos estupidamente perigosos. É verdade que estavam pessoas da organização em ambos os pontos, mas acho que eram perfeitamente evitáveis e a prova não perderia a mística sem aquelas duas descidas.

Fiquei com a sensação que a organização só pensou nas elites e no campeonato. Optou por não cancelar a prova e garantiu que a elite chegava para aparecer na TV. O resto do pelotão? Azar. Para o ano há mais e as inscrições irão esgotar ainda mais depressa.

Não resisti e fui olhar para os resultados. O primeiro atleta passou pelas Srª da Piedade com 2h59, o último, obviamente, com 5h30. Ora utilizando a "regra" do dobro do tempo do primeiro, 6h seria um tempo perfeitamente aceitável para se passar no controlo. Mais, o último atleta a chegar à meta fez-lo em 10h16, quase 3h antes do tempo limite para a prova! 

Se volto aos Abutres? Não sei. Talvez num ano de seca. Afinal temos de ser humildes e compreender que terminar os Abutres não é para quem quer. Fiquei chateado com a situação e afinal não é só nos Abutres que há Lousã...