terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A última de 2013...


Acabei de chegar do último treino de 2013. A minha voltinha pelo Passeio Maritimo de Oeiras e Carcavelos. Era suposto serem 12km preguiçosos, bem ao jeito de como tenho andado nos últimos tempos. Mas mesmo antes de sair tive uma sessão de motivação como a minha linda esposa: 
Ela:Onde vais?!?
Eu:Vou só dar uma corridinha, a última do ano.
Ela: E quanto tempo vais levar? Olha que temos de ir dar banho à Mafalda e ainda não temos nada preparado para o jantar.
Eu: Hum.... Menos de 1 hora.
E pronto, 12km preguiçosos passaram a 12km muito rápidos. Acabou por ser um dos treinos mais rápidos dos últimos tempos. Nada como uma dose de motivação conjugal. Enquanto corria ia-me lembrando do ano e "escrevi" este post.

Em termos desportivos este foi um ano muito bom e muito mau.

Mau, porque após quase 3 anos a fazer desporto com regularidade fui assolado por lesões, sendo a mais desesperante o "Joelho de Corredor" ou Síndrome da banda iliotibial. Entre Março e Maio estive 8 semanas praticamente parado o que quase me levou à loucura. Até ficarmos incapacitados de treinar não damos valor ao simples acto de calçar as sapatilhas e correr. Nos restantes meses torçi o pé pelo menos 3 vezes, tive uma contracção no gémeo e andei 2 meses com uma dor no pé esquerdo que penso que terá sido uma fratura de stress num metatarso.

Bom, porque não só superei grande parte dos meus objectivos como completei outros que nem sonhava no inicio de 2013. Alcancei a minha melhor forma de sempre e participei em 26 provas, um aumento de quase 500% em relação ao ano anterior. Queria correr 1000km e fiz 1843km em 154h (média de 5'01''/km).


Pode dizer-se que este ano teve 3 andamentos.
Vivace: Entre Janeiro e junho participei no Torneio das Localidades de Oeiras. Foram 14 provas muito interessantes, que devido à relativa curta distância e aguerrido nível competitivo eram autênticas provas de velocidade. Nestas provas o coração ia sempre no red line e consegui as médias de velocidade mais rápidas de sempre em prova.

Andante: Nos finais de Junho meti na cabeça que iria correr uma Maratona e no meses seguintes foi tempo de treinar para isso. O objectivo passava então pelo aumento da distância percorrida e a velocidade ficou para segundo plano. Quando antes considerava um treino de 15km como longo  e algo apenas feito nas vésperas das Meias, passou a ser um treino de recuperação dos treinos verdadeiramente longos de fim de semana. Fui progressivamente aumentando a distância até culminar no grande dia 6 de Outubro quando corri a Maratona em menos de 4h (espero que o meu professor de Educação Física esteja a ler este post, o aluno a que dava sempre 3 correu uma Maratona!).

Adagio: Depois de toda a emoção e persistência do treino para a Maratona fiquei um pouco apático, e entre outros afazeres acabei por me desleixar um pouco. Novembro foi um dos meses com menos km's mas foi tambem o mês em que descobri a emoção do Trail. Começou com um treino à "Hora do Esquilo" e culminou com a grande Corrida do Monge.

Para 2014 só espero poder continuar, este agora, estilo de vida e com ajuda da minha família continuar a desfrutar do prazer de correr.

Bom 2014 para todos e boas Corridas!


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Corrida do Sporting 2013 - 01 Dezembro 2013

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Sim, estão a ler bem, este é o meu report da Corrida do sporting... Quase um mês depois... E incompleto... Podia colocar as culpas na falta de tempo (o que é verdade), ou na época festiva (o que também é verdade) ou ainda no Blogger andar a boicotar-me (infelizmente também é verdade, passo a vida a ver "Ocorreu um erro..."). Mas a realidade é que tenho andado muito preguiçoso para escrever. Às vezes pergunto-me porque carga de água é que decidi escrever um blog quando o acto de escrever é em mim tão natural como um elefante a andar de bicicleta... Enfim...
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Não, não sou sportinguista, nem tive um episódio de esquizofrenia (à lá interprete de linguagem gestual)... Conhecem a expressão "Só fazia isso se me pagassem...", pois... Por diversas vezes a utilizei para esta corrida no passado e desta vez alguem decidiu cobrar o meu bluf. Forreta Poupado como sou era para mim impossível não ir participar numa prova à borla, e por isso lá tive de engolir em seco e ir para Alvalade no Domingo de manhã.
Eu bem tentei colocar um fundo lindo mas mesmo assim não foi suficiente... ;)
Era suposto ir com o meu sogro, que também faz umas corridinhas mas nunca participou em provas. Ele é sportinguista e seria a oportunidade ideal, mas na véspera não pode ir e fiquei com um dorsal a mais. Ir à prova já seria um "sacrifício", mas ir sozinho seria desumano. Qual seria a companhia ideal? O meu amigo benfiquista Duarte! Até parecia uma daquelas piadas: "Era uma vez um benfiquista, um Portista e 4000 sportinguistas...".

Entre o empeno da Corrida do Monge, um pico de trabalho, as consultas pré-nascimento e o nascimento da Mafalda, não tinha treinado muito nas semanas anteriores à prova e como tinha desafiado o Duarte decidi que iria fazer a prova com ele.

Não tinha pesquisado muito sobre a prova mas lembrava-me vagamente de ler que a corrida terminava dentro do estádio, e isso era o pormenor que tornava esta corrida interessante.

Cedo começaram as desculpas: "Ah e tal não corro há muito tempo, estou com o nariz entupido... Mas quando as pernas começaram a mexer conseguimos manter um bom ritmo. Isto claro depois de termos parado ao fim de 300m devido a um afunilamento incompreensivel logo a seguir ao portico da partida. Aliado a termos saido no bloco  "+60min" o 1ºkm foi feito nuns estonteantes 6'13''. No entanto, nos km's seguintes conseguimos manter-nos em torno do 5'30''. Ainda não era desta que iamos atacar os 50min... mas para a proxima não há desculpa!
Nos 1ºs km (ainda havia sorrisos) e sim, sou o gajo com a tshirt da cor mais linda... 
A prova teve duas fases: a ida em que o Duarte falou o tempo todo e a volta em que eu ia tentanto manter uma conversa para me certificar que ainda lhe chegava oxigénio ao cérebro...

A vantagem de termos partido tão atrás é que fomos ultrapassando atletas toda a prova o que é sempre motivador. Para além das personagens já habituais nestas provas, achei imensa piada a duas atletas que envergavam tshirts da corrida do benfica... Fiquei indeciso se seria um acto de coragem ou um ímpeto suicida...
Perto do km8 onde já escasseavam os sorrisos...

Terminámos ao sprint em 55'10''. Logo ao passar a meta travagem brusca visto estar uma multidão na zona da chegada... Esperámos e esperámos ao frio e eu já imaginava os brindes fantáticos que nos esperavam depois de tão grande espera... uma água, uma maça e um copo de bebida isotónica... Sem comentários.

Mas o pior foi mesmo termos ficado do lado de fora do estádio. Se era apenas para correr na Avenida da Républica há bastantes alternativas...

Muito obrigado ao Duarte por me ter feito companhia o que tornou esta prova uma das mais divertidas de 2013.

Já agora também estou farto de dizer que só vou à corrida do benfica se me pagarem... Só para o caso de haver alguém interessado em patrocinar a minha participação. ;)


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

21ª Corrida do Monge - 17 Novembro 2013

Mais uma prova de trail e mais um valente empeno...

Desde que comecei a ler blogues de corrida (o que fez começar a  fervilhar a ideia de fazer trails) que tinha em mente correr a Corrida do Monge. Por ser perto, por ser curto, tinha as características ideais (pensava eu) para me iniciar no mundo do Trail. Acabei por fazer a iniciação ao trail um pouco mais cedo na Pampilhosa da Serra, mas a prova de Domingo foi uma perspectiva completamente diferente.
A foto para a posteridade, desta vez antes da prova.
Depois de uma semana sem correr por causa do entorce no pé, a semana anterior à prova optei por me controlar e ficar-me pelo alcatrão e pela passadeira de forma a não fazer nenhuma asneira que pudesse comprometer a tão esperada Corrida do Monge.

No Domingo foi dia de acordar cedinho e carregar com toda a família para a Malveira da Serra. Chegámos cedo e o processo de levantar o dorsal foi instantaneo, sem esperas, sem stress e sem tecnologia. Um simples dorsal com um código de barras. Foi este o mote para toda a logística da prova: simples e eficiente.

Às 10h30 é dada a partida e começa a aventura. Esta prova tem provavelmente o início mais brutal de todas as corridas que já fiz. São 4,5km de subida praticamente contínua com um D+ de 340m, sempre em terreno "corrivel". Praticamente desde o início que se viam atletas a andar, mas eu teimei em correr quase até ao fim da subida, ultrapassando imensos pelo caminho.
A partida: onde está o WallyRui?
Chegámos ao primeiro abastecimento e aqui surge a minha única critica à organização. Estavam a distribuir garrafas de plástico mas não havia (ou pelo menos não os vi) sítios para as recolher. Ainda pensei em levá-la nos calções, mas o mais certo era ir cair a meio do percurso o que era ainda pior. Optei por colocá-la no chão ao lado do voluntário, ao menos estava fácilmente acessivel.

No abastecimento ia ao lado de uma senhora que o voluntário teve a gentileza de dizer que era a 6ª classificada. E porque é que estou a partilhar esta informação aparentemente irrelevante? Já vão perceber.

O pelotão ainda compacto a meio da subida.
Tudo o que sobe tem de descer e a Serra de Sintra não é exepção. Mal passámos o topo da subida entrámos em trilhos propriamente ditos que nos acompanharam até praticamente ao 10km. E aqui começa a adrenalina e a grande diferença para a minha outra experiência em trail. Na Pampilhosa também havia grandes descidas, mas o caminho era maioritariamente estradões de terra. Aqui o terreno era muito irregular, cheio de raizes, pedras e socalcos que formavam por vezes uma espécie de degraus infernais.
Foto do FB da Sirjim. Não sou eu mas é para ficar com recordação dos "degraus".
Eu bem tentei acompanhar mas aos primeiros avisos do meu tornozelo, diminui a intensidade e passei para o modo super cuidadoso. Já não bastava ir cheio de medo que o pé me falhasse, mas comecei a sentir gente atrás de mim, sempre a pressionar e literalmente a voar-me por cima sempre que existia a minima oportunidade. Muitos deles reconheci-os, tinha-os passado na subida quando já iam a passo. Detesto sentir-me pressionado, tenho sempre a sensação que estou a estorvar. Ainda me sentia pior quando eram senhoras que estavam atrás, porque sabia que estavam a lutar pelo TOP10 e respectivo prémio. Tentava sempre ceder passagem mas nem sempre era fácil fazê-lo em segurança.
Foto do FB da Sirjim. Não sou eu. Na minha escala o nivel técnico desta prova: Bem acima das minhas capacidades.
O percurso eram lindíssimo, se bem que "senti" mais do que efectivamente "vi", porque os olhos não podiam sair do metro quadrado de chão à minha frente. Se não fosse o constante receio de lesão teria aproveitado muito mais. Só me vinha à cabeça o treino que fiz em Monsanto, só que numa escala gigante. Já ansiava pela famosa rampa para poder finalmente relaxar um pouco.

E ela lá chegou, e que "bela" subida. A parte mais interessante era a forma sádica com que brindava os iniciantes que como eu a "corriam" pela primeira vez. A cada segmento de inclinação absurda surgiam uns metros planos que permitiam correr, e nos faziam crer que o pior já tinha passado, apenas para nos depararmos a seguir com outra parede para escalar. Mais uma vez me veio à cabeça a imagem dos carrinhos de corda da infância: aperta, aperta, aperta para depois gastar toda a energia potencial numa corrida louca.

Após a conquista do monte foi tempo de iniciar a descida para a Meta. Rápidamente os trilhos deram lugar a estradões e depois a empedrado. Oh bendito empedrado que por esta altura parecia um piso super regular. Aqui mais confiante, com a inclinação a meu favor dei largas às pernas e cheguei a Janes com as endorfinas a bombar.

Episódio caricato mesmo a terminar. Vejo a minha família perto da meta e preparo-me para o habitual sorriso quando sou albarroado por um atleta (que tinha passado na descida vertiginosa) que quer ultrapassar-me violentamente. Já me tinha acontecido algo semelhante no troféu das localidades, mas aí cada posição valia pontos e para quem estava a competir por equipas podia ser relevante. Neste caso não. Queria aqui felicitar o sr. 536 pelo seu espectacular 195º lugar que nada tem a haver com o meu decepcionante 196º.
Mais uma vez obrigado ao Sr. 536 por este momento sem o qual este post não teria a mesma piada.
 Depois foi receber o saco com as lembranças e o famoso pão com chouriço. Tinha lido que haveria balneários disponiveis e decidi proveitar. Balneários talvez seja uma palavra demasiado complexa para descrever o local, mas permitiu limpar o corpo com um revigorante duche de água fria. Obviamente que isto sou só eu, menino de ginásio, que não está habituado à dureza da corrida em montanha.

Gostei imenso desta prova e quero muito cá voltar, de preferência sem o "medo" dos problemas físicos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Olá Mundo!

Olá eu sou a Mafalda.


Como sou linda de morrer (atributo claramente herdado da minha mamã) o meu pai (com medo de ter que enxotar os meu pretendentes com um pau) optou por apenas mostrar a minha mão, assim ao estilo dos tempos medievais.

Cheguei no Domingo e claramente o meu papa fez a opção correcta em não se inscrever na corrida do Jamor. Embora eu saiba que ele ia gostar muito, até porque agora anda com a mania que que é um louco do trail, mas já devia saber que a mamã tem sempre razão...

É só para informar que nos próximos tempos o meu papa não vai participar em tantas provas e os treinos às 6 da manhã são para esquecer. Já para não esquecer que se já levava semanas para escrever um post agora devem passar a meses.

Mas nem tudo é mau. Vai poder treinar a sua resistência ao cansaço como nunca e vou fazer o meu melhor para que melhore a sua coordenação motora com a quantidade de fraldas que terá de trocar.

Beijinhos e até qualquer dia quando for ver o meu papa correr e tirar uma foto com ele!

PS- A mamã ainda está no hospital e não fez a habitual revisão gramatical e por isso a ocorrencia de erros é inevitavel.

sábado, 9 de novembro de 2013

Semana Zero km

Ou "Parece que sou feito de cristal..."

Esta semana corri a estonteante distância de zero km. Nenhum, aucun, ningún, kein...


 Depois de na semana passada ter descoberto a adrenalina de correr nos trilhos, esta semana foi um completo anti-climax em que tive de me "atar" à cadeira para não ir correr.

No sábado passado fui fazer o treino organizado pelo Correr na Cidade com o título de "Let's Get Dirty" pelos trilhos do complexo do Jamor. Podem ver  a relado e as fotos "oficiais" aqui. Foi um treino muito interessante e divertido com exceção que na ponta final torci, mais uma vez, o pé direito.


Podem estar a pensar "há e tal correr à maluca em trilhos dá nisso" mas a verdade é que não foi nada assim. Quer dizer, efectivamente andámos feitos bodes da montanha na mata do Jamor e que incluiu uma descida bem emocionante. Aqui o pé esteve sempre bem. O ponto de encontro, e por consequência o final do treino foi em Algés. Já no regresso, no caminho paralelo à linha do comboio, PLANO, e num ritmo CONFORTÁVEL, pimbas, torço o pé.

 Ia distraído na conversar e não percebi o motivo, quando dei por ela já estava agarrado ao pé a gemer. Não foi tão mau como da última vez, acho que até daria para continuar a correr, mas achei que era melhor antecipar o fim do treino. Ainda pior foi que o resto do pessoal também parou e fez os últimos metros a caminhar comigo... Foi muito simpático da parte deles, mas eu já estava em baixo por ter torcido o pé e ainda fiquei pior por saber que estavam a interromper o treino deles por minha causa...

Desde a última vez, fiquei com a sensação que o tornozelo não tinha voltado ao normal, mas como não existia dor ao correr minimizei a situação. Na altura, a pouco mais de uma semana da Maratona não fiz grande descanso e isso "talvez" tenha influenciado a recuperação. Desta vez, embora provavelmente tivesse sido possível correr uns dias depois, decidi que iria descansar até não ter qualquer dor e recuperar toda a capacidade de rotação do pé.

Foi uma semana infernal, sempre a pensar em ir correr sem poder e passar os dias no Facebook a ver os treinos dos outros... Não era capaz de ficar completamente quieto e por isso acabei por ir quase todos os dias ao ginásio. Posso perder a forma de corrida mas fico com um Core de aço com a quantidade de aulas de Pilates a que fui esta semana.

Outro dos motivos que também decidi fazer esta semana de pausa é porque estou farto de sentir que sou feito de cristal. Desde a lesão no joelho no início do ano que não me consigo libertar desta sensação. Ou é uma dor no pé, ou tornozelo inchado, ou uma impressão no joelho, ou uma pontada na anca... Nunca me sinto a 100% e estou sempre com medo de fazer algum movimento mais brusco e "partir" qualquer coisa. Deixei de me sentir livre.

Ontem fui comprar um pé elástico, possivelmente não tem grande função para correr, mas ao menos ajuda na parte psicológica a sentir-me mais seguro. Amanhã vou  fazer uma corridinha de teste, vamos lá ver como corre...


domingo, 3 de novembro de 2013

Há Esquilos em Monsanto!

Não, não me dediquei à observação da fauna de Monsanto. Os "Esquilos" a que me refiro não são os pequenos mamíferos roedores que habitam a floresta mas uma outra espécie. Uma espécie em clara expansão, uns "loucos" que diariamente invadem Monsanto às 6h da manhã, e com os seus pirilampos à cabeça deambulam pelos trilhos.
Cartaz retirado do grupo do Facebook
O mundo é feito de coincidências, mas acabamos sempre por nos surpreender quando nos acontecem a nós. Nestes últimos tempos tenho sofrido de uma "maleita" conhecida por "apelo dos trilhos". Começou com uma vontade de fazer rampas, mas depressa escalou para a procura de provas em trilhos e finalmente a procura de locais para treinar. Meti na cabeça que havia de ir treinar para Monsanto, mas como conheço muito mal o local fui à procura de percursos no Explorer do Sporttracker. Comecei a clicar em alguns treinos aleatoriamente e começo a reparar que existem imensos, e de utilizadores diferentes, com a label "Treino dos Esquilos". Fiquei curioso e fui procurar na net. Encontrei algumas referências mas nada de muito concreto. 

No final desse mesmo dia, ao actualizar o meu treino no Endomondo, fui cuscar os treinos no Sílvio. Qual é o meu espanto quando reparo que um dos seus últimos treinos também contem a palavra "Esquilos". Envio-lhe longo um email a pedir mais informações. Nesse mesmo dia sai no "SOL" uma reportagem sobre Corrida, em que um dos temas abordados são os treinos à hora do Esquilo. E foi deste modo que tomei conhecimento do grupo do Facebook denominado "Loucos Trail Running" que dinamizam todos os dias, à "Hora do Esquilo", das 6h às 7h da manhã, treinos pelos trilhos de Monsanto.

Foto da reportagem do SOL
Mais uns emails trocados, uma ida a correr na segunda-feira à noite à Decathlon para comprar um frontal, e terça-feira às 6h estou a estacionar o carro na estrada do penedo para o meu primeiro treino com os "Esquilos".

E que treino... Foi fantástico. Acho que nunca me tinha divertido tanto a correr como naquela manhã. Foram trilhos como eu nunca tinha feito (e que sozinho nunca teria a coragem de os fazer...). Era um sobe e desce constante com a adrenalina sempre a bombar. E a cereja no topo foi o correr à noite. Embora já tivesse corrido sem Sol, era sempre por alcatrão e com a presença de candeeiros, correr no breu por carreiros só com a luz do frontal é toda uma nova injeção de adrenalina. Na minha perspectiva foi um treino duro, mas como após cada súbida mais exigente aguardava-mos que o grupo se reunisse dava para recuperar um pouco (a opinião dos experts é que tinha sido um treino "sereno"...).
Acabámos com o nascer do Sol e uma vista magnifica sobre Lisboa.
No final do dia ainda tinha o sorriso na boca e no trabalho já ninguém me podia ouvir falar das maravilhas de ir correr às 6h da manhã...

Cheguei a casa e após engulir o meu orgulho fui criar um perfil no Facebook só para poder aderir ao grupo. Sempre fui um "facebook-excluido" por opção e um cético das redes sociais por convicção. Mas a "pancada" foi tão forte que tive de rever as minhas crenças e no dia seguinte aturar a zombaria dos meus caros colegas.

Mal podia esperar por voltar, e na sexta-feira voltei a correr com os "Esquilos". Acho que estou viciado...

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Regresso à Terra...

E após 3 semanas nas nuvens, no passado Domingo acordei para a "dura" realidade que não sou um Deus do Atletismo.

Várias vezes tenho ouvido pessoas comentarem que com o passar do tempo o nosso cérebro retêm mais facilmente os momentos maus do que os bons. Não sei se é assim para muita gente, mas para mim, talvez por ser entusiasticamente optimista, é exactamente ao contrário."Esqueço" demasiado facilmente os momentos difíceis e retenho em gloriosa apoteose os momentos fantásticos. Por este motivo, após a Maratona, mal me deixou de doer as pernas tornei-me um snob das corridas. Sentia que tudo podia e nada era demasiado longe. Procurava afincadamente uma próxima prova, e não podia ser uma prova qualquer. Agora olhava com desdém para provas de 10km, com interesse reduzido para as meias e apenas as superiores a 40km valiam a pena pesquisar. Para verem o grau de demência a lista de provas que andei a ver incluíam: Maratona de Madrid, Maratona de Liverpool, Maratona de Paris, MIUT, Ultra Trail de Sesimbra...

Mas como é que tudo isto está relacionado com o treino de Domingo?

Este ano decidi que ia aproveitar a hora extra devido à mudança de hora, não para dormir com é habito, mas para correr. Deste modo às 7h estava a sair de casa rumo ao Jamor, a correr.
Objectivo: Jamor!
O objectivo era fazer um bom longão, fazer os 8km até ao Jamor pela Marginal em ritmo de Maratona, em torno dos 5min/km (ritmo esse que só existe na minha cabeça porque na Maratona propriamente dita km's nesse tempo foram quase inexistentes...), depois explorar o Complexo do Jamor incluindo uma passagem pela zona florestal (porque agora o foco vai ser as provas de trail e no mínimo Ultras...) e por fim regressar a casa pelo mesmo caminho.

Este era o plano, agora a realidade... 

Logo aos 2km tive que parar por motivos técnicos: fechei mal o camelback e metade da água já tinha encharcado a mochila, as costas e os calções, e por isso fiz praticamente todo o treino ensopado. Os km iam passando mas o ritmo poucas vezes chegava aos 5min/km e estava a custar-me. 

Embora passe todos os dias à "porta" do complexo do Jamor nunca tinha corrido na zona da pista de canoagem (apenas na zona florestal na Corrida das Localidades). Dei umas voltas em torno da pista e pelas "ilhas". Distraído com a paisagem achei que era tempo de passar ao "trail mode" e meti-me por um atalho bem inclinado que me levou até à entrada do Estádio Nacional. Cheguei ao topo com o coração a saltar-me do peito e sem fologo para continuar a trilhar... Optei por me deixar ir na descida em alcatrão de volta ao terreno mais plano.

Ainda dei mais umas voltas ao complexo mas com 12km nas pernas comecei a temer que não conseguisse regressar a casa... Voltei para a Marginal e iniciei o doloroso regresso a casa. Sentia as pernas presas, os músculos pareciam pedras. Pensei várias vezes na nota de 10€ que levo sempre na mochila e se a deveria entregar aos senhores da CP...
O "retorno"... ou talvez não...
Fui aguentando e para me distrair ia fazendo contas ao número de km's que faria se chegasse a casa. Os meus treinos longos são sempre planeados ao pormenor com muito pouco espaço para o improviso, desse modo sei sempre quantos km's vou fazer. Mas no Domingo com tanto improviso perdi-me nas contas. Quando estava a chegar ao passeio Marítimo, onde tenho várias referências, chego à conclusão que se for directo para casa não chego aos 21km... Não pode ser! Então uma pessoa levanta-se cedo, com frio, encharcado, a sofrer e não faz sequer uma Meia! Não, não e não. Toca de dar mais uma voltinha ao rabo da baleia para fazer os 22km. E assim foi...quase...quando cheguei ao ínicio da rampa perdi a luta psicológica com as minhas pernas e atalhei pela Marina...

Fiz 22km certinhos em 1h53. Não foi muito mau, mas custou-me imenso e acho que não conseguia dar mais um passo. Fiquei a pensar como é que consegui terminar a Maratona, só pode ter sido muita sorte.

Este choque com a realidade teve um lado bom, fez-me colocar as minhas prioridades na ordem certa. Há coisas muito mais importantes do que coleccionar medalhas... Há muito trabalho para se conseguir alcançar um objectivo dessa magnitude e há que saber apreciar o caminho.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Corrida do Aeroporto 2013 - 20 Outubro 2013

No passado Domingo foi dia de regressar às provas depois da Maratona. Fui participar na Corrida do Aeroporto.

Esta corrida é muito especial para mim. Primeiro porque trabalho no Aeroporto e portanto há mais gente conhecida. Depois porque o ginásio que apoia o evento é o "meu" ginásio, mais gente conhecida incluindo muitos dos treinadores que embora não "corram" de forma sistemática vão fazer a prova. Essencialmente é muito convivio, antes depois e durante! Este ano ainda mais forte porque foi a minha estreia a correr pelo "Clube TAP". Como possivelmente já perceberam trabalho na TAP. Muito recentemente o Clube dos trabalhadores reactivou a secção de Atletismo e esta foi a primeira corrida em que pude participar. 

Este ano com os aviões a descolar para Sul  possibilitavam um enquadramento perfeito!
Cheguei um pouco mais tarde do que gostaria até porque ainda não tinha o dorsal. Esta também foi uma novidade para mim, estar a meia hora da hora de partida e ainda não ter o dorsal. Picuinhas/Metódico como sou, ao fim de 5 minutos de estar sem sucesso à procura do colega com os dorsais, comecei logo a stressar... Felizmente lá o consegui encontrar mas acabei por não ter muito tempo para confraternizar porque já estava quase na hora e ainda tinha muitas caras conhecidas para cumprimentar. Espero numa próxima oportunidade poder rectificar a situação, esperei tanto tempo para fazer parte de uma equipa que tenciono dedicar-me a este projecto.

Mais uma vez tive a companhia do meu amigo Duarte, embora desta vez tenha começado a dizer que ia na descontra e nos tenhamos separado logo na partida. No entanto acabou por fazer uma prova espectacular quebrado o seu RP... Quem é que faz um RP numa prova desta! Duarte, para a próxima vou contigo e é para fazer em 50 min!
A posar para a foto e o pelotão a formar-se...
Entre conversas e fotos fomos para o "garrafão" quando já lá estava muita gente, devemos ter ficado no último terço. Quando se deu a partida foi o caos. Já não tinha uma partida assim há muito tempo. Nas últimas provas ou tenho saído de uma box, ou eram provas do Torneio das Localidades em que toda a gente saía a assapar ou era a maratona onde toda a gente saía no controlo.

Acabou por ser divertido porque assim fui ultrapassando muita gente e cada vez que via alguém conhecido  gritava um força, o que nos primeiros km foi bastante frequente. Gosto muito do percurso desta prova, não é dos mais fáceis nem propício a bater records (tás a ouvir Duarte) mas é variado e nada monótono. Desde a passagem na pista Moniz Pereira, e a sensação que estamos a correr sobre almofadas. Passando pelo Parque Urbano da Alta de Lisboa em que atravessámos a ponte sobre o lago (eu não senti, mas o Duarte diz que quando passou pela ponte esta vibrava de tal modo com as passadas dos atletas que chegou a temer que fosse parar à água...). E claro a volta no Parque das Conchas, com todo o sobe e desce associado. Com um D+ de 110m é uma prova dura, mas termina numa descida de 500m que permite um sprint supersónico e um final saturado de endorfinas!


Com a dose extra de adrenalina, comecei a prova cheio de punjança. Mesmo com todas as ultrapassagens até ao km4 a média ficou perto do 4:15 por km. O km4 coincide com o "retorno" no Parque Urbano, uma curva apertada seguida de uma subida de quase 1km, mas mesmo aqui consegui manter um bom ritmo, em torno dos 4:30. No km5 encontro o único abastecimento, mas como o dia até está fresco opto por não recolher a água. O percurso fica mais plano e até à descida para a entrada na Quinta das Conchas começo a sentir-me um pouco cansado, mas as pulsações estão OK e tenho a sensação que estou a manter um bom ritmo, mas não ia...

Segue-se a entrada na Quinta das Conchas, para mim, a pior parte do percurso. É uma descida algo ingreme em empedrado e que com a chuva da noite estava molhada e escorregadia. Mas vale a pena, porque a seguir entramos na Quinta e para além de um excelente percurso temos gente a ver e a puxar pelos atletas. Como seria de esperar o ritmo baixou um pouco, 4:45 nos km 8 e 9. O último km, já em alcantrão, e com o final a descer, voei para a meta.
Desta vez não tem som, mas estou a rir-me porque a Margarida está ao berros a puxar por mim! :)
O primeiro "hum" foi quando o relógio apita para os 10km antes de chegar à rotunda, a uns 200m da meta: "Ok, a prova é um pouco "maior" mas deve dar para os 45min". O segundo "hum" foi quando parei o relógio e vi 45:15: "Ah! Como é possivel já passar dos 45', devia ter alguns segundos de folga...". Mas não tinha, aquele km após o abastecimento, em plano, onde pensava que estava no ritmo foi feito quase nos 5 minutos por km. Não consigo perceber o que se passou, lembro-me de ter passado por um grupo com um "sargento" que estava sempre a berrar com o grupo para correrem mais depressa. Devo ter-me distraído  e parece que as pernas engrenaram na velocidade da Maratona, e não avisaram o resto do corpo...

No final tivemos direito à medalha pin magnético, uma maçã e 2 garrafas de água, o que foi óptimo porque estava cheio de sede, talvez não tenha sido grande ideia não beber no abastecimento...

Embora o resultado não tenha sido exactamente o esperado, fui muito feliz nesta prova. Em termos competitivos, a velocidade média foi exactamente a mesma da prova do ano passado, e no ano passado estava a treinar velocidade (foi na altura em que estabeleci o meu RP nos 10km). Mas fundamentalmente porque foi um óptimo convívio! Até para o Ano!
A foto de família, desta vez sem a "medalha" porque o iman tem a mania de não segurar nas pessoas...





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Rock’n’Roll Maratona de Lisboa – Estatística

Como já referi algumas vezes, tenho a pancada da estatística. Os meus colegas de trabalho estão sempre a gozar comigo que até para ir ao wc tenho uma folha de excel, são pessoas muito sensíveis… Após alguns dias a matutar decidi fazer uma análise estatística aos resultados da Maratona de Lisboa.

Comecei por procurar na internet estatística de outras maratonas e descobri este site com a análise de todas a maratonas efetuadas nos Estados Unidos em 2012.

Perfil Demográfico

Dos 1837 atletas que terminaram a prova apenas 203 foram mulheres, cerca de 11%.


Esta disparidade contrasta com os dados dos EUA onde a proporção anda em torno dos 60/40 (60% homens, 40% mulheres). Para encontrar uma proporção semelhante nos EUA temos de recuar até ao início dos anos 1980.

Os dados da prova que consegui não têm informação da idade dos atletas, apenas o escalão. Desta forma não é muito fácil fazer uma caracterização da idade, uma vez que o escalão Sénior abarca atletas de uma faixa etária muito grande (18-35). No entanto, mesmo com esta ressalva, o escalão com maior número de atletas masculinos é o 40-44 e nas mulheres o Senior, o que está em linha com os dados das grandes maratonas internacionais. 

1088 atletas tinham mais de 40 anos - 59%. Este é um valor elevado quando comparado com os EUA - 46%.

Terminaram a prova atletas de 40 Nacionalidades. Sem grande surpresa eis o Top10 dos países com mais atletas. Uma nota curiosa terminaram a prova 4 Noruegueses, os 4 com quem eu falei no regresso de Metro.

Tempos Médios

O tempo médio da prova foi 4h13m39s, o que revela uma prova relativamente rápida, a média em 2012 nos EUA foi 4h30m21s. Não esquecendo as condições em que a prova se realizou, muito calor e muito Sol.

Por escalão, no sector feminino, sem grande surpresa o mais rápido é o Senior. É o escalão com o maior número de atletas onde as profissionais representam uma parte significativa.
Já nos homens, o escalão mais rápido é o M35. Os séniores e os M40 têm praticamente o mesmo tempo médio, não esquecendo que os atletas profissionais com tempos estratosféricos são séniores. Mas mesmo a diferença para os 2 escalões seguintes é muito pequena, sendo que o tempo do M50 é mesmo inferior ao M45. Estes dados vêm confirmar a ideia que com o aumentar da distância da prova o factor idade tende a esbater-se.


Cerca de 40% dos atletas terminaram em menos de 4h e 88% em 5h. A “hora de ponta” foi entre as 3h45 e 4h45, 57% dos atletas chegaram nesse intervalo.

Nos EUA em 2012 30% dos atletas terminaram em menos de 4h e apenas 70% em menos de 5h.

O quadro seguinte mostra o número por tempo e por escalão.

Não existem dados para contabilizar os DNF.

Conclusão

Estes dados revelam que embora o número de atletas seja relativamente pequeno, tendem a estar bem preparados (tempo médio inferior à média nos EUA e apenas 12% dos atletas acima das 5h). O tempo médio é certamente influenciado pelo facto da percentagem de mulheres ser muito pequena, mas mesmo o tempo médio dos homens é inferior à média americana. A Maratona atrai atletas mais veteranos, esse factor é ainda mais notório em Portugal com quase 60% dos atletas com mais de 40 anos.

sábado, 12 de outubro de 2013

Rock'n'Roll Maratona de Lisboa

Domingo corri a minha primeira Maratona.

Acordei antes do despertador e fiquei à espera que tocasse para finalmente me poder levantar. Era finalmente o dia. O dia com que andava a ansiar há meses tinha finalmente chegado.

Mal me levantei tive logo de ir WC e pensei: Porreiro, assim fica a questão já resolvida! Depois de tomar o pequeno almoço oficial pré-prova, deu-me vontade outra vez: Hum, antes agora do que na hora da partida! Despachei-me em modo ultra silencioso para não acordar o resto da casa e depois de "plastificar" o bilhete de comboio (mais sobre o assunto nas notas finais...) mesmo antes de sair de casa, nova investida à casa de banho: MAU, intestinos vejam lá se atinam! Acho que perceberam a mensagem e durante toda a prova estive impecável nessa parte.

Devido à partida ser em Cascais e eu morar a uma distância andável da Estação da CP de Oeiras, tinha a logística simplificada e cheguei bem cedo à zona da partida.

Ainda ensonado já pronto para a partida!
Ainda estavam poucos atletas. Andei um pouco a ver se encontrava alguém conhecido e ia ouvindo as conversas, havia muita gente a correr a distância pela primeira vez. Tive o prazer de conhecer a Isa e o Vitor que estavam com o João. Mais umas voltas e finalmente encontrei o meu amigo Fernando que também se ia estrear na Maratona. Decidimos ir fazer o resto da espera dentro do "garrafão" o que nos permitiu sair relativamente à frente.

Com o meu amigo Fernando.
Finalmente eram 10h05, era a hora, o culminar de 4 meses de dedicação iam finalmente ser testados. Acho que pela primeira vez em provas comecei a correr ao meu ritmo antes do pórtico da partida e não tive de fazer qualquer zigzag. Tal como o video, também passei por 8 estados:

1 - Excitação ( 0 -15 km)


Os primeiros km foram uma alegria. O pelotão ia compacto mas ia sempre no meu ritmo. O plano era fazer os primeiros km um pouco acima dos 5min/km para aquecer e depois passar para um pouco abaixo a partir do km 5. Pela primeira vez levei um segundo telemóvel só para tirar fotos, afinal tenho um blog para manter! :)
Epá isto de tirar fotos a correr é divertido!
Passei pelo Zé Luís, outro amigo com quem treino habitualmente, que já tem bastante experiência em Maratonas e obviamente tive que tirar uma foto. Passei a bandeira das 3h45 e poucos metros mais à frente sou ultrapassado a velocidade supersónica pela bandeira das 3h30... hum...acho que o pacer das 3h30 estava a dormir na partida e depois acelerou para recuperar.

O Zé Luís a espalhar o seu charme.
Ao passar a bandeira das 3h45, haviam um autêntico "Muro" de atletas a ultrapassar.
Havia bastante gente nas ruas e com os músculos carregados de glicogénio nem dei pela subida até ao casino. Esta era uma parte do percurso que quase podia fazer de olhos fechados, tantas foram as vezes que por aqui passei nos últimos meses. Os km iam passando sentia-me muito bem e estava desejoso de chegar a Oeiras, pois sabia que ia ter a minha família à espera. Continuava super excitado e tirava fotos.

Deixa lá ver se vêm muitos atletas atrás...
E mais uma foto que preciso de muitas para o Blog.
Olá casa! (não é a minha casa mas fica perto)
Finalmente chegava a Oeiras e exactamente onde tínhamos combinado estavam lá a Inês(com a Mafalda) a Margarida e os meus pais que vieram de propósito do Alentejo para me verem. Obrigado Pais!

Passagem em Oeiras para o apoio da Família.
Fui planeando o que faria quando passasse pela Inês, e felizmente o meu pai apanhou em filme. :)

2 - Negação (15km - 22km)


Após as emoções de passar por Oeiras foi altura de retornar à Marginal e voltar à prova. Lembro-me de olhar para o relógio e ver uma pulsação alta, 10 bpm acima do que seria de esperar face ao ritmo que levava. "Se calhar é por causa da subida.". Uns metros mais à frente os bpm continuam altos "Deve ser da adrenalina de estar em prova...". Em Paço de Arcos "O Relógio deve estar com problemas, não me sinto assim tão cansado...". Obviamente que o relógio estava certo, estava a desgastar-me muito mais depressa que nos treinos. Nunca me senti muito incomodado pelo calor, mas a verdade é que deve ter sido esse o grande culpado. Ao analisar os dados já em casa verifiquei que das quase 4 horas que levei a percorrer os 42,195km, em 3h19 as pulsações estiveram na zona 4 (Very Hard)...

O sorriso ficou em Oeiras...
 No km18 sou ultrapassado por um atleta cuja cara me parece familiar. Acelero um pouco para me colocar ao seu lado e reparo na sapatilhas amarelas. Era o Nuno Ferreira. Meti conversa e lá fomos alguns km's na conversa.

Nuno, deixa-me tirar-nos uma foto que é para o Blog.
Chegamos finalmente à zona do passeio de Caxias. Para mim este foi um dos pontos fortes da
organização. Muita gente não sabia deste "desvio", e o factor surpresa ajudou à experiência. Não só evitou uma subida muito diíicil como proporcionou uma vista sobre o rio fenomenal. A organização capitalizou ainda mais o cenário colocando voluntários com as bandeiras dos países dos atletas, o que certamente muito agradou aos atletas internacionais.

Passagem pela Cruz Quebrada, muito fixe, dava para sorrir outra vez.
O enquadramento perfeito, o Tejo, a Ponte a Cidade, e as bandeiras.
Quando voltámos à Marginal disse ao Nuno para seguir porque o ritmo era demasiado forte para mim. Havíamos de nos cruzar mais duas vezes. Estes km's foram os mais rápidos de toda a prova, abaixo do 5min/km. Pouco depois estava em Algés a passar o pórtico a indicar a metade do percurso. Uma das coisas que aprendi nesta prova é que metade de uma Maratona não é uma Meia-Maratona (a segunda metade são para aí umas três meias...). "Estou muito bem não há problema!"

Hoje é o meu dia! Meia já está!
A última foto tirada com o telemóvel...

3 - Choque (22km - 30km)


A partir daqui começou a custar. O telemóvel foi para o bolso para nunca mais sair. O percurso entre Algés e o Cais do Sodré parecia nunca mais acabar. O ritmo ia caindo e cada km levava mais tempo a fazer que o anterior. Quase desde o início que se viam atletas a andar, mas nesta fase eram às dezenas. A única coisa que me fazia manter o passo de corrida era saber que o meu pai estaria no Cais à minha espera e tinha combinado uma hora e se andasse não ia conseguir cumprir...

Passagem no Cais, está tudo bem Pai! (só me doi tudo...)

4 - Desespero (30km - 34km)


Após o km30 entramos na volta à baixa, para mim, a parte menos conseguida do percurso. Começando pelo empedrado infernal na Ribeira das Naus, mas quem é que teve a ideia de colocar calhaus pontiagudos a fazer de estrada? Era toda a gente a utilizar os 20cm de pedra lisa entre a estrada e o passeio. Depois o quase total desinteresse das pessoas. Pouca gente a puxar pelos atletas, mais interessados em conseguir passar a estrada. Na rua da Prata fui inclusivamente albarroado por um par de homens que decidiram passar a rua de costas para o sentido da corrida...

Já tudo doía, as pulsações estavam altíssimas, quase a entrar na zona 5 (Maximal), e  continuava a ultrapassar atletas que andavam o que era muito desmotivador. Consegui resistir até perto dos 34km, mas aí, no abastecimento tive de andar. Já não havia energia para hidratar e correr simultaneamente.

5 - Solidão (34km - 37,4km)


Entro depois naquilo que denominei o "Deserto de Xabregas", outro ponto fraco do percurso. Uma zona feia e quase deserta de pessoas. Com todo este sofrimento começo a imaginar os pensamentos dos atletas estrangeiros:"Possibly the World's most gorgeous course..yeah right...". Continuo a minha estratégia de andar nos abastecimentos e manter uma corrida no entremeio. E assim sigo até ao km 37,5...

6 - O "Muro" (37,4km - 39km)


Não, não bati no muro. Ou pelo menos acho que não bati. Havia muito cansaço, as pernas estavam muito doridas, mas nunca me senti completamente esgotado. Mas sem qualquer aviso tenho uma cãimbra na perna esquerda. É uma dor tão forte e inesperada que nem consigo continuar a andar, vou para a berma e sento-me no chão. Mal me sento penso: "Porra, e agora como me vou levantar...". Fico ali no chão a tentar alongar o músculo. Parece que fico ali uma eternidade mas foram menos de 2 minutos. Vejo vários atletas passar, inclusivamente a bandeira das 3h45.

Não sei muito bem como mas consigo levantar-me e verifico que é possível andar. Os 1,5km seguintes são feitos a andar. Nunca cheguei a pensar em desistir mas o sofrimento era muito e lembro-me de dizer para mim o habitual "Mas porque me meto nestas coisas... claramente menosprezei a distância...". Ao longe vejo a placa dos 39km.

7 - Convicção (39km - 41km)


"Mas sou um homem ou um rato? Não estive quatro meses a treinar para me arrastar até à meta. Só faltam 3km. Essa distância nem chega a ser um aquecimento. Vou correr!"
E corri, e senti-me bem outra vez! Provavelmente poderia ter recomeçado a correr mais cedo mas tinha medo que a cãimbra voltasse. Ao km 40 vejo o contador do tempo, 3h48. O sub 4h era possível! Nova onda de motivação que coincide com a entrada no Parque das Nações.

Esquerda, direita, esquerda, direita... Sou um atleta, vou conseguir!
Há novamente gente na rua e ao contrário da baixa estão a puxar pelos atletas. Já tinha ouvido uns "Força Rui" pelo caminho, mas aqui perdi a conta. Ia sempre agradecendo com um leve abano de braço porque a pouco energia restante estava dedicada a colocar uma perna à frente da outra.

8 - Exaltação (41km - 42,195km)


Quando entro na avenida D JoãoII sinto pela primeira vez que vou conseguir chegar ao fim. O público forma um corredor contínuo ao longo da avenida e a sensação é incrivel. Um grupo de camisolas laranja dos R4F grita exuberantemente e quando reparam na minha tshirt começam a gritar "Força Rui" (são claramente os maiores! Obrigado malta dos R4F!), nesse mesmo instante vejo novamente o meu pai a tirar fotos, vêm lágrimas aos olhos e começo a soluçar. Preciso de mais de 300m para controlar a respiração.

Estou (glup) bem (glup) Obrigado (glup) Pai! (glup)
Curva, placa dos 42km, só falta 195m. Outra curva, encalho no empedrado com lombas (mas quem é que faz uma recta da meta de uma maratona num empedrado com lombas...). Não vejo a família que grita por mim mas vejo a meta. O placar mostra 3h58 vou conseguir, e já está, corri uma MARATONA.

CONSEGUI!!!!!!
Tinha planeado fazer montes de coisas quando passa-se a meta: Levantar os braços e agradecer poder correr, Gritar e partilhar a minha alegria, Beijar a aliança para dedicar à minha mulher. Mas a clareza de espírito não era muita e apenas parei o relógio e andei.


Lembro-me vagamente de me entregarem a medalha e darem os parabéns. De me obrigarem a parar para tirar uma foto mas tudo o que eu queria era 1 m2 de chão para me poder sentar. Vi o meu pai do lado de fora, recolhi o saco e o gelado e apressei-me a sair.


Chão... Descanso...
Finalmente o resto da família juntou-se e pude celebrar com eles. Foi muito bom tê-los comigo neste momento. Ao longo destes meses de preparação foram eles os mais prejudicados com esta minha "obssessão". O meu muito obrigado.

Obrigado Amor! ;)
Notas Finais:

Como os comentadores políticos também tenho notas finais.

1) Corri a maratona em 3h57m35s, sem consumir um único gel. O único alimento sólido foram cubinhos de marmelada.

2) 10h é uma hora absurda para começar uma maratona em Portugal no Início de Outubro. Mas só quando vi a gravação da tv percebi o porque dos 5 min, e a Meia 10 min depois. Será que valeu a pena sacrificar a experiencia dos atletas pelo "directo"?

3) A questão de ter de "comprar" um cartão para poder ter comboio "grátis" chateou-me, principalmente depois de não colocarem nada sobre o assunto nas instruções finais, e mesmo quando questionados especificamente por email nada referirem sobre a necessidade do cartão. No regresso já no metro estive a falar com uns Noruegueses que estavam muito confusos com a situação e só perguntavam se o transporte não era grátis.

4) No geral a organização esteve muito bem. Os abastecimentos eram bons e os voluntários muito simpáticos (poderia ter havido mais abastecimentos de bebida energética).

5) O "desvio" na Cruz Quebrada foi o ponto alto do percurso, o "deserto" de xabregas o pior.

A pose para a posteridade!