ou "O maior empeno de sempre"
ou "A aventura na Pampilhosa"
****Ressalva: Este é um post longo, com poucas fotos (porque ainda não dominei a arte de tirar fotos e correr ao mesmo tempo) e está uma semana atrasado porque sou um caracol a escrever.****
Há pouco mais de 3 meses na minha lista de objectivos escrevia:
10 - Participar numa prova Trail
Este é um objectivo bem recente e que espero poder riscar bem em breve (até porque é fácil) . Nunca tinha pensado muito neste tipo de provas, gosto mais de correr "limpinho" e a um regime constante. Mas depois de ler os imensos relatos pela comunidade de bloggers fiquei com tanta vontade (leia-se inveja) que decidi que havia de experimentar (um bem curtinho que isso de escalar arribas parece difícil).
E realmente inscrever-me até foi fácil. Mal li o desafio da Anabela (Run Baby Run)começou a fervilhar o plano...
Há algum tempo que estava para ir visitar uns tios da minha adorada esposa que vivem no Candal, perto de Alvaiazere. Depois de muito estudar o mapa consegui convencer-me que ficava "relativamente" perto.Tinha assim uma excelente desculpa para carregar com toda a família estrada fora. Como vim depois a descobrir, 50km pela serra não é exactamente sinónimo de perto...
Como agora tenho a mania que corro longos km's, quando vi que o trail "só" tinha 19km achei que não seria problema. Na realidade até achei que era curto, uma vez que iria substituir o meu treino longo na preparação da maratona. Era tão verdinho...
A única coisa que acertei em relação ao objectivo é que me fartei de "escalar" montanha acima.
Mas voltemos à prova. Cheguei à Pampilhosa perto da hora de almoço. Depois de um curto passeio pela zona do Rio Unhais e de um mergulho na espectacular Praia Fluvial foi hora de assentar arraiais e fazer um piquenique com vista para a meta (a minha filha adora piqueniques).
A Praia Fluvial com a Meta lá ao fundo. |
Descontraidamente de camelback na mão, e reparem, de costas para a porta :) |
A minha foto tirada dentro do autocarro em movimento não fazia justiça ao local pelo que decidi procurar na net |
A foto de grupo versão Sol |
O ambiente na partida |
A esta foto decidi chamar: O Sorriso do Maçarico |
Chegamos à primeira subida e ai começo a ultrapassar. Primeiro um, depois outro e mais outro, começo a ver gente a andar e penso, mas que raio isto até nem é assim tanto a subir. Aguento-me até ao km 3, olho para o relógio e vejo 186bpm. Se continuo neste ritmo não aguento, não deve ser fácil uma ambulância chegar aqui, será que têm helicóptero? Dou uma gargalhada seca e começo a andar.
Não paro no abastecimento, até porque levo a mochila, mas a subida é tão íngreme que não dá para correr. Desta vez sou eu que começo a ser ultrapassado, e entre eles está um senhor mais veterano e com uma tshirt do Sporting. Considero que o senhor deve ser experiente nesta coisa do Trail e durante os 2km que ainda faltavam na subida colo-me a ele. Quando ele andava eu andava, quando corria eu corria. O cimo nunca mais chegava e eu inocentemente ansiava pela descida...
E ela lá chegou, deixei o senhor para traz e ataquei a descida qual Killian do Alentejo (só uma nota, andei na semana anterior a ver a série de videos que o Killian Jonet fez com a Salamon, só para motivação). Durou 10 metros. Apanhei um susto porque as pernas não responderam como estava à espera e os 3km seguintes foram feitos sempre a travar. Nesta fase o meu mantra era: Não estou a amar isto. O raio da descida nunca mais acabava!
No final dos 3km de descida chegamos à aldeia de Cabril onde se encontra mais um abastecimento e onde volto a não parar. Tinha levado uns cubinhos de marmelada que fui comendo de 15 em 15 min depois da 1ª hora. Saímos da aldeia por um trilho irregular e as pernas voltam a falhar e quase torço novamente o pé. Começo a sentir-me muito cansado e só quero uma descida para "poder" andar.
Iniciamos mais uma "escalada", e passamos por um troço de alcatrão. Todos os meus instintos me dizem para correr mas estou demasiado fatigado e continuo a andar. A partir daqui sempre que o caminho sobe, passo imediatamente para modo caminhada para tentar poupar as pernas para as descidas. Até ao km 14 continuamos neste sobe e desce quebra pernas, ora "Mas a p**** desta parede nunca mais acaba!" ora "ai, ai, ai perninhas não me falhem nesta descida!".
Nesta parte fico várias vezes "sozinho". Este era um do meus maiores receios em relação aos trails. Ao ler os vários relatos de provas de trail na blogosfera, um tópico habitual é gente a perder-se e acabei por me deixar impressionar. Felizmente sempre que tive de tomar uma decisão o caminho estava muito bem assinalado e em vários pontos estavam pessoas da organização a indicar o caminho. Para mim este foi um ponto muito positivo da organização!
No km 14 mesmo antes de terminar a última subida encontro o terceiro e último abastecimento. Desta vez pego numa banana e numa garrafa de água (porque estava com medo de já ter pouca na mochila mas acabei por ficar quase com metade da água na mochila). E que bem me fez, o meu estômago aceitou bem e senti-me novamente com energia. Ficou a indicação para a maratona, vou levar bananas!
Infelizmente após o abastecimento muitos atletas jogaram as garrafas vazias para o chão. Até nas provas de estrada me faz alguma confusão deitar as garrafas para o chão, então aqui, no meio da serra não me pareceu mesmo nada bem. Como tinha a mochila enfiei a garrafa vazia num dos bolsos e segui caminho.
Os últimos 4km são sempre a descer até à Vila, onde perdemos mais de 360m de altitude! Uma das descidas é tão inclinada que tenho mesmo de parar com medo de ir parar ao chão, mesmo assim esse km é feito em 4:35, o mais rápido da prova.
A 2 km da meta entramos numa estrada de alcatrão. Será verdade? Será que vamos fazer 2km inteirinhos em alcatrão? Oh Júbilo! Mas a organização ainda tinha uma supresa, mesmo antes da recta da meta temos de descer umas escadas altas até à zona da praia fluvial. Estou com as pernas tão empenadas que tenho de utilizar os braços para as conseguir descer.
Os últimos metros são sobre a passadeira de madeira da praia fluvial e com a meta já à vista pareço que estou a voar. Vejo a minha filhota e a minha linda mulher e lá consigo por um sorriso para a foto.
A chegada e o apoio exuberante da Margarida |
O sorriso é só para disfarçar... ainda procurava o coração que me tinha saído pela garganta... |
A minha flor não me largava |
A banhos no Unhais |
No dia seguinte tinha um andar "estranho" e subir escadas era um tormento. Foi tal o empeno que quase uma semana depois ainda não tinha recuperado totalmente os músculos das pernas. O tempo costuma suavizar as coisas mas acho que nem na minha primeira meia maratona fiquei assim tão empenado.
O meu objectivo era mesmo terminar uma prova de Trail e sentir as emoções de correr na natureza, dando o meu máximo, pelo que o tempo e a posição era completamente secundário. Mas fiz a prova com um tempo oficial de 1h59m18s o que deu o 87º lugar na classificação geral (terminaram a prova 201 atletas). Foi uma experiência muito positiva que quero repetir. No entanto, também me fez ver que a minha forma actual, muito focada na maratona, não se adequa a este tipo de prova.
A última frase vai para a minha família, nomeadamente a minha luminosa Inês que atura com um sorriso estes meus "devaneios".