segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

II Trail Running Bucelas - 02 Fevereiro 2014

Já passou uma semana e ainda não escrevi uma linha sobre esta prova. Sinto as memorias lamacentas e escorregadias a deslizarem da minha psique. Ou isso ou estou a interiorizar aquilo que mais fiz em Bucelas: Escorregar!
Aqui ainda estava tudo limpinho e com as sapatilhas sequinhas!
Estava super ansioso por esta prova. Não só devido ao recente interesse no trail, sendo esta a prova mais longa em trail em que participei, como,  na semana que antecedeu a prova, toda a gente falava da prova e de como era a 1ª edição tinha sido espectacular. Tinha as expectativas bem lá no alto e foram completamente preenchidas.

No entanto, na véspera tive uma quebra na motivação, com a mensagem do Sílvio a avisar que não iria à prova. Como referi no post anterior tenho andado a treinar bastante com o Sílvio e uma pessoa habituasse a ter companhia, principalmente quando temos andamentos semelhantes e sentimos que não estamos a atrasar ou a pressionar o outro (não sei se tens a mesma percepção mas espero que sim! :) ).

Mesmo antes de sair de casa assombra-me a indecisão: Levo ou não mochila? Encho a bolsa de água com os 2L ou apenas com 1L? Confio nos abastecimentos sólidos ou levo mantimentos? Visto o corta vento ou levo apenas a camisola?  Levo a badana ou o chapéu? (Esta claramente a mais importante decisão!) Dado a minha "limitada" experiência e porque as minhas aventuras recentes foram em autonomia total acabei por levar  a mochila  com 2L de água , comida para 2 e o corta vento foi enfiado à pressa dentro da mochila segundos antes da partida.
Sharam! Acabei por levar a badana vermelha! Ponto positivo: foi fácil identificar-me nas fotos, era o tipo que parecia um fósforo!
Pensava que iria chegar com bastante tempo a Bucelas, mas acabei por não ter tempo para muito. Entre arranjar lugar para o carro, levantar o dorsal, voltar ao carro para equipar e voltar para a partida era quase hora. Ainda deu para trocar 2 dedos de conversa com alguns dos muitos bloggers que marcaram presença assim como pessoal dos "Esquilos".
Onde está o fósforo? :) (Hint: entre os ramos da árvore)
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Como sempre, assim que foi sinalizada a partida, um espírito competitivo apoderou-se de mim e lá fui eu a assapar. O facto do 1ºkm ser em alcatrão ajudou a fazer o km mais rápido de toda a prova. O alcatrão deu lugar a um estradão e aqui começaram a surgir as primeiras "pocinhas" que toda a gente se esforça por contornar.
Vou levar isto na descontracção e apreciar o caminho...ZAZ...ACELERAR, TESTAR LIMITES, DAR TUDO...
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura) 
Como se pode ver pelo estado das sapatilhas ainda estávamos bem no inicio!
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Do estradão passamos para um carreiro apertado onde evitar molhar o pé se torna algo passível de ter isto como banda sonora. A partir daí foi a loucura em forma de lama. Havia para todos os gostos, consistências, cores, viscosidades e odores.
Speedy Matchstick!
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Mantenho um ritmo (demasiado) elevado e rapidamente desisto de me desviar da lama, passando a optar por evitar apenas as zonas muito más. Cedo se veem atletas a perder sapatos no lamaçal e uma ou outra queda (que eu tenha visto nunca nada de muito grave). Nesta fase não consigo apreciar muito as vistas uma vez que é necessária toda a concentração para não ir parar ao chão. É também neste período que muitas vezes bendigo as minhas Brooks GTX, devido à tracção que não me atraiçoou e à impermeabilidade que manteve os meus pés bem sequinhos!
À saída de um dos túneis, não se vê mas à frente estava uma parede de lama para escalar.
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Durante 10km o espírito competitivo viveu em mim, mas foi exorcizado na primeira grande subida quando foi expulso pelo espírito de sobrevivência. Estes primeiros 10km foram feitos em 1h02, mas nesta subida percebi que não poderia manter o mesmo ritmo. Foram pouco mais de 600m com 40m de ganho, mas foi uma das subidas mais exasperantes que alguma vez fiz. A lama era mais que muita, e cada passo em frente era acompanhado com meio metro de deslize para trás... O trilho já estava completamente inutilizado e a única forma era utilizar a erva lateral para aumentar a tracção. E eu devia ir na 1ª metade do pelotão, nem imagino como terá sido depois de 600 pares de pés passarem por lá...

Muitas vezes, durante a subida, pensei no que poderia ser pior que aquilo... A resposta chegou rapidamente, quando, após a passagem no topo da colina, começámos a descer... por um trilho igualmente enlameado... Li algures alguém comentar que a prova parecia uma sessão de "Jogos Sem Fronteiras", foi esse exactamente o meu pensamento nestes km's. Na verdade apenas custaram os 1ºs metros, porque depois foi necessário desligar o filtro da sanidade e deslizar trilho abaixo.
Quase conseguia ouvir o Denis: "Attention! Prêts! Piiiiiii!" E vá de malta a escorregar.
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Ao km 13 dá-se a separação entre a prova de 25km e a mais curta. Nesta fase já num ritmo mais realista (até porque seguimos por trilhos estreitos onde as ultrapassagens são difíceis e mesmo quando possíveis temos sempre uma boa desculpa por nos deixarmos ir ao ritmo simpático do colega da frente), aproveito para apreciar a paisagem. Não tenho bem a certeza mas penso que é mais ou menos nesta zona onde começam a surgir as primeiras placas a dizer "Perigo" e os primeiros obstáculos algo desafiantes. 
Um dos "obstáculos" com placa a dizer "Perigo"
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Passámos também num género de planalto com erva baixa onde não existe propriamente trilho, apenas um elemento da organização ao fundo a marcar o percurso. Foi uma sensação de liberdade incrível, e só me vinha à cabeça os vídeos do Kilian a saltitar pela montanha.

A placa dos 15km marca o início da grande subida. Foram 220m de ganho de altitude em pouco mais de 2km. Felizmente uma boa parte da subida foi feita pela encosta virada a Sul e por isso havia muita pedra mas menos lama. Aqui, apesar de estar a andar, foi das zonas onde ultrapassei mais atletas. As descidas continuam a ser o meu ponto fraco, mas nas subidas consigo colocar um bom ritmo. Já perto do topo, e uma vez que de qualquer maneira já vou a andar, decido tirar umas fotos.
Quase no topo da subida precisava de todo o ar disponível...
Perto dos 19km encontro o 3º e último abastecimento. Ainda não falei dos abastecimentos. Infelizmente ainda não consegui libertar-me daquela sensação que o tempo parado nos abastecimentos é tempo desperdiçado, e por isso não fiquei mais que alguns segundos em cada um. Em todos segui o mesmo modus operandi: comer um quarto de laranja, comer meia banana, agradecer aos simpáticos voluntários e siga que se faz tarde. Uma vez que não estava muito calor e tinha 2L de água às costas optei por não beber a água fornecida em copos de plástico. Na altura até nem achei muito mal, mas depois do FB começaram a aparecer alguns comentários mais negativos pelo facto de andarem copos espalhados pelo percurso. Infelizmente é algo que continua a acontecer, para mim jogar uma garrafa para o chão em provas de estrada já me faz confusão, quanto mais no meio da Natureza.
Mais uma para mostrar as eólicas bem ao lado do caminho.
Continuamos durante mais uns 2km no sobe e desce pelas cristas da serra até que por fim iniciamos a nossa descida, pela encosta virada a Norte. Retornamos a mais uma sessão de Jogos Sem fornteiras e lá vou a deslizar trilho abaixo. Até que surge uma placa a dizer "MUITO PERIGO" a vermelho e como se isso não fosse suficiente ainda estavam 2 elementos da organização a avisar que os próximos metros estavam muito perigosos e que era melhor irmos a andar...E efectivamente uns metros mais à frente surgia um lamaçal em forma de escorrega. À minha frente segue um senhor com bastões. Há alguns km que sigo atrás dele e me pergunto porque carga de água é que alguém leva uns bastões para uma prova desta. Pois bem, não sei se foi karma foi simples inexperiência minha, mas no escorrega o senhor lá foi com os seus bastões serenamente, eu, por outro lado, não consigo ter a mesma tracção e acabo com o cu no chão. Foi a minha primeira queda em trail. Tirando uns arranhões e umas mãos e um ego enlameado não teve consequências de maior. 

Consigo completar a descida sem mais quedas, mas fiquei um pouco desmoralizado e aliado ao cansaço, ao facto de ter as mãos com mais 2kg de lama e não conseguir beber água sem sujar o bocal, a concentração diminui e os 3km seguintes são os mais complicados, embora o percurso em si fique mais fácil. Para ajudar à festa, faço um pequeno entorçe do pé. Felizmente foi mesmo pequeno (ou então os ligamentos já estão tão flexiveis que já resistem às torções :) ) e após alguns metros de avaliação deixou de doer e consegui terminar sem mais problemas.



Os km finais são feitos nas margens do ribeiro, que estava mais que prometido que iríamos atravessar. Se calhar sou um "menino" e não estou preparado para o trail "hardcore", mas a verdade é que atravessar cursos de água não me atrai minimamente. Principalmente porque com as minha sapatilhas impermeáveis, ao ficarem submergidas no atravessamento, tornaram-se dois sacos de água que tive de transportar no último km. Efectivamente a água ia saindo e se calhar aquela é a sensação que qualquer sapatilha encharcada provoca, mas não gostei. Ainda por cima, sabendo a organização que aquele era um dos pontos altos da prova podia ter tirado fotos de toda a gente e não apenas dos primeiros. Assim fiquei com as sapatilhas encharcadas e sem foto para comprovar.
Não sou eu mas é para ficar com uma foto de recordação do Ribeiro.
(Foto FB Grupo Bucelas Aventura)
Os últimos metros em alcatrão pareciam surreais depois de 25km de lama e aproveitei para sacudir a maior  ao correr abaixo dos 5min/km.
A já banalizada foto do depois...
Terminei os 25,4km e 800m D+ da prova em 3h08m o que deu o 184º lugar da geral em 444 atletas que completaram a prova longa. Ao chegar tive de pedir a uma senhora da organização para me dar um biscoito, porque com as minhas mãos com kilos de lama não queria andar a chafurdar no tabuleiro.
A cara da chegada e os 2kg de lama da mão.
Adorei a experiência e fiquei ainda mais rendido ao mundo do trail. Levei o caminho de regresso a casa a pensar em qual será a próxima!

16 comentários:

  1. ahah típico. 100 linhas a descrever como foi duro e no fim rematas com um "adorei, quando é o próximo??" eheheh Eu ainda estou à espera de sentir o apelo do trail, o ultimo que participei (ultra do Zêzere) não me deixou memorias lá muito boas, mas este ano ainda dou mais uma hipótese aos trilhos!

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    1. É verdade, clichés é cá com o je! ;) Eu também andei muito tempo a dizer que o trail não me atraia e que gostava de correr limpinho e certinho em alcatrão. Mas o ano passado comecei a experimentar e agora não quero outra coisa. Embora goste mais de "trail rolante", isto é, onde se pode efectivamente correr!
      Boas corridas!

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  2. Parabéns Rui, pela excelente prova, mas especialmente pelo teu primeiro "bate cú"....faz parte, e trail que é trail sem um tralho não é a mesma coisa :)
    Ai o menino não gosta de "encharcar" os pezinhos??? Ahh, então é melhor só fazer trail entre Junho e Setembro...lol. ....junta-te ao meu amigo Badolas e formem um clube :)
    Andas a dar-lhe com força....provas quase todos os fins de semana....sim senhor. Eu não consigo....tenho que ser muito selectivo ;)
    Aquele abraço

    P.S. - esse lenço dessa cor fica-te mal...ainda se fosses obrigado, como eu com o equipamento do CAL (lixei-te bem, pensavas que ias usar esta da cor da nossa camisola :P)

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    1. Olá Carlos. Sim, a Inês também me diz que tenho andado a "abusar" nos treinos :) Por isso é que nos próximos tempos também vou ter que ser mais selectivo. Eu gosto de correr,e com os pés encharcados e com 2kg de lama em cada um torna-se um pouco difícil! :P Se fosse para andar dedicava-me às caminhadas!

      Boas corridas, Abraço!

      PS- Também tenho um lenço lindo azul, mas tinha-o utilizado durante a semana e não estava em condições de ir à "festa" :)

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  3. Não deu mesmo para ir, com muita pena minha, estava a curar a gripe. Fiquei com mais pena, ainda, de não ter ido à prova, depois de ler este teu retrato.Concordo contigo quando dizes que temos andamentos semelhantes. Este fim de semana tive lama e água até à ponta dos cabelos, as minhas sapatilhas estavam castanhas da lama antes de ir para a prova agora estão todas brilhantes quase parecem novas de tanta água que levaram. Esta semana voltaremos a encontrar-nos nos esquilos. Um abraço

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    1. Sílvio, esta semana deve ter sido bem mais duro, com a chuva e o vento. Pelo menos em Bucelas o tempo estava espectacular.
      Pode ser que façamos uma prova juntos mais cedo do que era suposto! :) Vamos lá ver...
      Abraço.

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  4. Bom relato, Rui!! Revejo-me em grande parte, excepto nos ritmos, claro!!
    E é assim, quando lá estamos dizemos mal da nossa vida, assim que acaba a pergunta é sempre a mesma: qual o próximo?
    Parabéns

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    1. Olá Anabela! O próximo vai ser em estrada para tirar um espinha que me ficou encravada o ano passado, mas depois tenciono voltar para os trilhos! Até porque o mau tempo não pode durar para sempre e estou desejoso de correr sem lama!
      Boas corridas, bjnhs!

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  5. Então não te soube bem lavar os pés depois daquela lama toda? ;)
    Parabéns pela prova! Grande tempo!
    Quanto ao tralho, já é um milagre ter sido só um hihihi :)
    Beijinhos e boas corridas!

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    1. Obrigado Isa! Sim,não havia necessidade! :) Até porque havia banho de água quente no final!
      Boas corridas, bjnhs!

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  6. Parabéns pela Prova. Tempos daqueles num percurso daqueles não é fácil.

    Ainda não experimentei uma prova de trail, mas antes de o fazer tenho que comprar uns "pneus" de lama.

    Abraço e bons treinos/corridas.

    Fernando Varela

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    1. Obrigado Fernando. Eu andei durante muito tempo a evitar a lama mas agora não quero outra coisa! Ter calçado apropriado é fundamental, pelo menos se evitar quedas está nos teus objectivos ;).
      Boas corridas, abraço.

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  7. Respostas
    1. Foi efectivamente! Obrigado pelo comentário aqui no estaminé!
      Boas corridas!

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  8. Os teus ténis são GoreTex? É que esse sistema de impermeabilização é muito bom mas... quando a água entra também já não sai!! :) Em provas que já sabes que vais atravessar cursos de água tens de recorrer a outra opção.
    De resto, olha, mais um que foi atingido pelo cupido dos trilhos.... Estás tramado! ;)
    Bjs, bons treinos

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    1. Sim... Sim... e sim... :)
      Sim, são GoreTex e quando os comprei (antes de fazer qualquer treino em trilhos) pareceu-me uma excelente característica.
      Sim, já me tinham avisado e na prova pude comprovar in-loco que depois do ribeiro parecia que tinha dois sacos de água fria em cada pé (embora a água fosse lentamente evacuada).
      E sim, foi um "trilho" certeiro e fiquei embevecido...
      Boas corridas, bjnhs!

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